segunda-feira, fevereiro 25, 2008

UNIÃO DE LEIRIA: QUE FUTURO?









São de profunda crise, os tempos que se vivem em Leiria. Com o clube à beira do abismo no plano desportivo, consumada que está, praticamente, a descida à Liga de Honra, também na óptica administrativa o emblema leiriense já viveu melhores dias.
Depois de um incío de época abrilhantada pela participação na Taça Intertoto, e pela presença na primeira eliminatória da Taça Uefa, onde foi derrotado pelo Bayer Leverkusen, numa eliminatória onde, no conjunto das duas mãos, a turma então orientada por Paulo Duarte, demonstrou uma grande atitude, e grande qualidade individual e colectiva, a equipa caíu num fosso sem saída, que terminará, mais que provavelmente no Liga Vitalis, com diminutas perspectivas de regresso ao convívio entre os grandes do futebol português num futuro próximo.
Assim sendo, é de todo pertinente tentar perceber o porquê desta situação, numa colectividade relativamente recente, com "apenas" 42 anos de história mas que, ao longo, essencialmente, da última década, habituou todos os amantes da redondinha a bom futebol, a campeonatos tranquilos, e até a presenças regulares nas competições europeias.
Começando pelo topo da hierarquia, há que destacar o grande trabalho desenvolvido pelo presidente João Bartolomeu, que chegou à presidência em 1987, e muito fez para que o clube subisse, degrau a degrau até à primeira divisão, depois de muitos mas bons anos na extinta II Divisão. Posto isto, a criação da SAD, em 1999, e respectiva profissionalização do clube, a construção do estádio, a recente e moderníssima Academia UDL, tudo isto são pontos que jogam a favor do trabalho deste empresário que um dia chegou à presidência do clube, e que hoje acumula essas funções com as de presidente da própria SAD.
Como a alta roda do futebol profissional, nos dias que correm, exige altos montantes financeiros envolvidos em tudo um pouco, João Bartolomeu rodeu-se sempre de pessoas ou instituições com capacidade financeira para fazer frente às adversidades, e o que é certo é que, nos últimos anos, têm sido bastantes as "exportações", quer de jogadores, quer de treinadores, para clubes de maior nomeada, quer para o estrangeiro. Porém, todas estas "remodelações" pelo próprio operadas, provocaram diversas ondas de choque na cidade, que, a cada dia que passou, se alheou cada vez mais da equipa de futebol, tendo hoje por hoje, uma das piores médias de assistência no seu recinto, no moderníssimo e funcional Dr.Magalhães Pessoa.



Muitos "forasteiros" questionam a razão de tal confrangedorismo e, muitos habitantes e naturais de Leiria são incapazes de responder. "Não gosto de futebol", dizem uns, "Estou farto de vigaristas", rematam outros, "O futebol já deu o que tinha a dar", finalizam ainda.
Pois bem, me parece de todo pertinente analisar esta questão a fundo, para depois olharmos o plano meramente desportivo, onde aí aparecerão treinadores, jogadores, empresários, e outros que tais...
É completamente absurdo afirmar-se que Leiria é uma cidade que não gosta de futebol. Recordo-me, em tempos que já lá vão, finais da década de 80, e toda a época de 90, de assistir, ao vivo, a quase todos os jogos do União, no antigo estádio, a deslocações por esse Portugal de norte a sul, com milhares (e escrevo bem, milhares) de adeptos a apoiarem a equipa, ainda que estivesse em disputa, à época, a II Divisão Nacional, com claros objectivos de subida, ano após ano. Logo, estou em crer que, quanto a este aspecto estamos conversados...
Então e o que é feito desses adeptos, perguntarão?
Fácil... Desligaram-se, por completo da relação de amor que tinham pela equipa, não que ainda não sofram pelo clube, mas porque, as pessoas que o lideram, não lhes oferecem qualquer tipo de credibilidade.
Chegámos ao ponto crítico e, quanto a mim, ao cerne da questão!
Foi a ausência de ligação que os responsáveis pelo clube, época após época, tiveram com os sócios e adeptos que fez com que estes deixassem de acreditar na sobrevivência do clube, e daí nasceu o respectivo afastamento de toda a cidade, eu diria.
Pouco há a fazer para inverter tal tendência, e talvez mesmo a única solução passe pela remodelação completa das pessoas que lideram o clube e a SAD, por forma a que os habitantes da cidade possam voltar a acompanhar a equipa, quer em casa, quer fora, e que reavivem o espírito já existente no próprio clube, mas que cada vez mais desaparece nos dias que correm.
Com pouco mais de um milhar de sócios pagantes, com pouco mais de meio milhar presentes nos jogos caseiros, com a equipa de futebol cada vez mais na cauda da tabela classificativa, com a descida à Liga de Honra, dez anos depois, praticamente consumada, impõe-se a pergunta: QUE FUTURO PARA A UNIÃO DESPORTIVA DE LEIRIA?

Estão marcadas para Abril as eleições para a direcção do clube, e aí, mais que provavelmente só haverá uma lista a sufrágio, presidia por João Bartolomeu, que se apresta para cumprir o seu último mandato, como o próprio já teve oportunidade de afirmar publicamente.

Assim, e com a manutenção de toda a estrutura profissional da SAD, é de esperar que o clube aposte forte na próxima temporada para regressar ao principal escalão do futebol português.
Neste prisma, aguardar-se-á, com alguma ansiedade a chegada da nova época desportiva, para que, a equipa possa voltar a dar alegrias aos seus adeptos. Mas será que algo mudará, na relação CLUBE-CIDADE? Não creio... Tudo continuará na mesma, repito, até novas caras aparecerem, e terem a credibilidade suficiente para, junto dos adeptos, voltar destes a nutrir total simpatia e apoio.

Então e como tudo isto aconteceu ao clube?

Mais uma questão de fundo, que por muitos é debatido, mas não por todos é acertada.
Se com a visão directiva que em cima apresentei, as coisas piroraram nos últimos tempos, olharei agora ao plano mais desportivo, para tentar verificar o grave da coisa...

Os últimos anos foram bastante proveitosos para o clube leiriense, não só em termos de resultados desportivos (o objectivo da permanência garantido em bom tempo, as constantes classificações europeias, o bom futebol apresentado, etc), mas também em exportação de jogadores e até treinadores. Com grandes executantes que saltaram para a ribalta do futebol nacional (Derlei, Maciel, Hélton, Tiago, Nuno Valente, Éder Gaúcho, João Paulo, entre outros), e com o estandarte José Mourinho, esse tal que é por muitos considerado o melhor treinador do Mundo, o Leiria foi, nos últimos anos, um autêntico viveiro.

Supostamente, todas estas saídas deram lucro ao clube, que foi conseguindo equilibrar as suas contas, e também fazer chegar a Leiria jogadores com qualidade, que acabavam sempre por protagonizar épocas agradáveis, quer a nível individual, quer a nível colectivo.

E o que falhou este ano no conjunto leiriense?

Comecemos pelo início: Paulo Duarte pegou na equipa, preparou-a para uma época tranquila, com várias provas em disputa (Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Taça Intertoto), construíu um plantel com valor, com alternativas válidas para os vários sectores e lugares, e arrancou em grande estilo na Intertoto (primeira competição oficial da temporada), apurando-se para a primeira eliminatória da Taça Uefa, onde foi derrotado pelo Bayer Leverkusen, um clube, em tudo superior ao Leiria, como é sabido, mas onde os seus pupilos foram dignos e saíram de cabeça levantada.
Depois de um início de época que deixou muito a desejar em termos de pontos conquistados, porque as exibições até eram bem conseguidas, passando pela eliminação das Taças (de Portugal e da Liga), o jovem técnico leiriense entendeu por bem pedir a demissão que, primeiramente não foi aceite pela direcção, mas a saída acabou por se tornar inevitável, algum tempo depois. "Só estava lá porque era genro do presidente", ouvia-se, numa clara alusão à relação familiar por demais conhecida entre João Bartolomeu e Paulo Duarte.
Estou em crer, deixando o direito a opinião contrária, que essa relação, ao contrário do que muitos apregoaram, até acabou por prejudicar o jovem técnico e não o inverso.
Quando, e perante um cenário que muitos desconhecem, um balneário é formado por bons atletas mas maus profissionais, é mais fácil saír um do que uma dezena, e a corda esticou pelo lado do treinador.
Injusto, dirão alguns, porque quem o conhece sabe que, Paulo Duarte é um homem com "h" grande, profissional, digno, justo e coerente.
Um dia, José Maria Pedroto afirmou: "Um brasileiro é bom, dois são demais, e três são uma escola de samba". Sem qualquer tipo de chauvinismo, concordo em absoluto.
Perante este cenário o trabalho tornou-se quase impossível, eu diria que, quer com Paulo Duarte, quer com qualquer outro treinador.
Após esta ruptura, eis que regressa a Leiria um homem bem conhecido da casa, no caso, Vítor Oliveira, para tentar inverter o rumo dos acontecimentos.
Sem sucesso algum, já que a equipa afundou-se cada vez mais, e a qualidade de jogo até diminuíu substancialmente.
Em suma, a Liga de Honra é já ali, mas muito mais importante do que lutar pelo regresso à Primeira Liga, será repensar toda uma estratégia de liderança!

E é por aí, na minha óptica, que o Leiria tem que pegar, para se organizar e ter um futuro risonho.

3 comentários:

Unknown disse...

Excelente texto Eduardo.
Em relação ao assunto Leiria, não posso deixar de dizer algumas coisas. Nos meus tempos de (mais) miudo, tinha uma paixão enorme pela União de Leiria. Para além de jogador do clube, era um fervoroso adepto, a tal ponto de torcer pela União mesmo frente ao Benfica. Como eu haviam muitos que deixavam de passear ao Domingo com a família para irem ao Estádio ver o clube da cidade e do coração.
Como tu disseste e muito bem, não podemos esquecer o trabalho de João Bartolomeu. Vigaro ou não, a verdade é que colocou Leiria entre os melhores. É óbvio que hoje em dia é visto com maus olhares e, quanto a mim, com motivos para tal. Hoje em dia o futebol do Leiria está rodeado de interesses e de vigarices e isso afasta as pessoas do futebol. Creio que a falta de credibilidade da direcção ao longo dos últimos anos, o aumento do preço dos bilhetes e o aparecimento da Sporttv são talvez os três principais motivos para o desaparecimento dos adeptos. Como eu há muitos que, ainda gostando da União, preferem ouvir na rádio ou simplesmente ficarem em casa a ver um outro jogo no canal de desporto.
Entristece-me muito o caminho deste Leiria e, como tu dizes e muito bem, vai ser muito difícil voltarmos a ver uma União de primeira. A menos que se mudem hábitos, rotinas e, mais importante, a direcção.

Anónimo disse...

Falta uma questão fundamental Eduardo, não sei se por desconhecimento (o que não acredito) ou apenas por não pretenderes ser mais incisivo (o que compreendo) não referes o que me parece ser o ponto fulcral de todo este processo UDL.

Podes referir aquilo que o ideólogo alemão Karl Marx chamou de "crise de crescimento", embora este aplicado aos sistemas políticos...

Podes referir o excesso de brasileiros que tem, quanto a mim, debilitado o futebol português nos últimos anos (porque, e no caso do União de Leiria basta que se venda um Helton para compensar a vinda mais 10 na esperança que haja um Derlei e assim sucessivamente...).

E podes até referir o divórcio entre adeptos e clube que, mais uma vez, quanto a mim nunca foi um casamento de grande sucesso. Tivessem as sucessivas Câmaras de Leiria dado o mesmo apoio ao SCL Marrazes como deram ao União de Leiria (estádio incluido) e não sei como estavamos de futebol na cidade hoje em dia...

Tudo isto leva-me ao ponto fulcral. João Bartolomeu, sem querer fazer um historial do passado do senhor em causa (que é bem conhecido por várias pessoas da cidade), o que me parece é que a evolução do fenómeno desportivo na sua globalidade não se compadece com Srs. desse calibre. E quer-me parecer que esses dirigentes da escola da ameaça, do black-out, da intimidação, do negócio obscuro, têm (como se vê todos os dias) os dias contados, passe a redundância.

Cada vez entendo menos e desisto de esgrimir argumentos com pessoas que afirma "era vigarista, mas fez um grande trabalho"... perfiro inverter as permissas da equação em causa e afirmar "fez um grande trabalho, porque era vigarista". E pessoas dessas num mundo desportivo empresarial de contas auditadas não sobrevivem. Não sobrevivem também os clubes cujos alicerces estão sustentados em lama. Que é (como é bem sabido) o caso do UDL.

Outro ponto que acaba por ser o Hara-Kiri do União de Leiria é o fim da sua ligação (raramente assumida) ao FCP. Por razões judiciais por demais conhecidas tornou-se cada vez mais complicado continuar atrelado ao poder nortenho a troca de saldos nas contratações de jogadores e treinadores.

Por estas razões e sem qualquer sentimentalismo porque nunca foi clube da minha simpatia, aliás aproveito aqui para referir a minha filiação ao Sport Clube Leiria e Marrazes, temo que o União tenha um destino F(O)ARENSE

Melhores Cumprimentos

JOÃO ARAÚJO

Anónimo disse...

Ainda bem que compreendes alguns dos meus "desvios" relativamente ao assunto, que são perfeita e plausívelmente justificáveis, suponho...

Um abraço!

EDUARDO MARQUES