segunda-feira, julho 28, 2008

EM ANÁLISE: Benfica - Sporting


Benfica 0-2 Sporting
(Yannick, Derlei)

O Sporting venceu ontem o rival Benfica por duas bolas a zero e conquistou o primeiro troféu da temporada, no caso, o torneio do Guadiana. Fábio Rochemback foi considerado o melhor jogador do torneio.
Antes de analisar mais em pormenor as duas equipas, importa referir que este jogo não deverá ser visto de maneira demasiado eufórica para uns nem tão pouco de maneira demasiado pessimista para outros. É óbvio que um derby é sempre um derby e que uma vitória trás sempre moral à equipa vencedora e deixa, por outro lado, alguma mossa a quem perde mas, ainda assim, nesta fase da temporada, há coisas mais importantes que o resultado. Mais, olhando para a fase em que os dois clubes se encontram, creio que era previsível o desfecho que tivemos ontem.
Analisemos então as duas equipas:

BENFICA:

- Quique Flores continua em fase experimental não só a nível de jogadores como também a nível táctico. A primeira parte acabou por trazer-nos alguns aspectos positivos nomeadamente ao nível da pressão alta onde vimos as quatro unidades da frente (Assis, Balboa, Aimar e Urreta) a procurar sempre pressionar o portador da bola. O Sporting, equipa que gosta muito de ter a bola, teve algumas dificuldades em circular a mesma e, nesse aspecto, há efectivamente algum mérito da equipa encarnada.
Ainda sobre os prós deste Benfica da primeira metade, talvez a razoável prestação de Maxi Pereira na lateral direita mostrando ser claramente mais competente que Luis Filipe e também o facto de termos visto o médio ofensivo (Carlos Martins) a aparecer muitas vezes na cabeça da área e até dentro desta a procurar finalizar. Não que Martins tenha feito um grande jogo (muito longe disso) mas o facto de ter tentado fazer o papel de box-to-box é um aspecto a relevar.

Se da primeira parte pouco se viu deste Benfica de positivo, a verdade é que o segundo tempo foi um completo desastre. Dos onze que estiveram em campo, salva-se Quim que voltou à equipa e, mesmo sofrendo dois golos (sem culpas em ambos), ainda conseguiu uma ou outra defesa que evitou um resultado mais volumoso.

Como aspectos negativos e a rever no futuro, acho que houve efectivamente erros a mais que Quique terá obrigatoriamente de os corrigir. Vamos por pontos:

1. Posicionamento de Aimar: Quique diz que conhece muito bem o internacional argentino mas a verdade é que quem conhece muito bem o "10" do Benfica diria precisamente o contrário. É um "crime" colocar Pablo Aimar a jogar quase que como ponta-de-lança recebendo as bolas de costas para a baliza. Ora, Aimar é um jogador que gosta de ter a bola, gosta de progredir de trás para a frente. Gostaria muito mais de o ter visto no lugar que Carlos Martins desempenhoul. A única explicação para a utilização de Aimar neste lugar só pode ser o facto de o atleta ainda se encontrar bastante debilitado fisicamente. A ver vamos o que os próximos jogos nos vão dizer sobre isto.

2. Pouca produtividade ofensiva: É natural que não seja fácil fazer circular a bola tendo tanta gente nova no centro do terreno. Os jogadores ainda estão em fase de conhecimento e torna-se difícil haver ligação de sectores e fluidez de jogo. Ainda assim, não podemos desculpar-nos com isso e há que haver mais exigência e cobrança. Diria que, a partir de agora, Quique deverá começar a trabalhar de forma mais vincada os aspectos tácticos já que o tempo começa a ser escasso e, por esta altura, a diferença do Benfica para a concorrência é bastante significativa.

3. Edcarlos: Não é de hoje as prestações ridículas deste brasileiro. Seria uma grande surpresa para mim se Edcarlos não estivesse na lista de dispensas de Quique.

4. Quique Flores: Houve coisas na segunda parte que não gostei e não posso deixar de apontar o dedo ao espanhol. Em primeiro lugar, não percebi por que é que vimos alguns jogadores a aquecer (Nuno Gomes por exemplo) se depois não foram utilizados. Pareceu-me haver alguma confusão na cabeça do espanhol a dada altura.
Depois, não compreendi o que Quique pretendeu fazer com a entrada de Fellipe Bastos para o lugar de Aimar. O Benfica passou a jogar com um "molhinho" de jogadores no centro do terreno sem se perceber o papel de qualquer um deles. Segundo percebi, Yebda e Amorim tinham o papel de pivots defensivos enquanto que Bastos, Jorge Ribeiro e Martins apoiavam Makukula. Ou seja, uma confusão no miolo sendo que a única coisa que abona a favor destes atletas é, como já referi, o facto de nunca terem jogado juntos nem transitarem da época anterior.

Em suma, a partir de agora as exigências dos adeptos benfiquistas vão ser maiores. As experiências terminaram e o tempo começa a correr demasiadamente depressa para o clube da Luz. Com a dispensa de muitos jogadores e com a introdução dos internacionais mais os dois ou três reforços, é tempo de aprimorar a equipa para o difícil inicio de temporada. Neste sentido, diria que há muito trabalho pela frente.

SPORTING:

- Paulo Bento vive dias tranquilos à frente da equipa leonina. Apesar de ainda haver arestas por limar, diria que a evolução da equipa de jogo para jogo tem sido notória.
Falando do modelo de jogo, a contratação de Fábio Rochemback deu à equipa uma outra variante: o "falso" 4-4-2 clássico. Apesar de achar que Paulo Bento tentará dar sempre mais primazia ao 4-4-2 losango, o que é facto é que este plano "B" poderá trazer benefícios à equipa. Perspectivando um onze modelo, será interessante ver Veloso e Moutinho (se ficar) no miolo, Rochemback como falso médio direito e, no outro lado, um jogador com maior características de extremo como são os casos de Izmailov ou Vukcevic. Ora, este sistema vai pedir muito a dois jogadores: Abel e Rochemback. Abel terá que ter um grande volume ofensivo já que Roca terá sempre tendência a ir para o meio à procura da bola. Quanto ao brasileiro, estou convencido que o mesmo tem capacidade física e inteligência técnico-táctica para fazer essa dupla função de médio direito/organizador de jogo.
Ainda sobre este plano "B", diria que Bruno Pereirinha sairia beneficiado (também Vukcevic se Izmailov derivasse para a direita) enquanto que o grande prejudicado seria Romagnoli. Os próximos jogos dar-nos-ão mais pormenores sobre a possível continuidade ou não desta alternativa ao 4-4-2 losango.

Analisando mais em pormenor os jogadores que estiveram ontem em campo, destaque para as boas prestações de Rochemback, Yannick e Derlei. Roca é aquele jogador que já todos conhecemos: agressivo a defender, inteligente com a bola nos pés e detentor de um "senhor pontapé". Por acaso ontem não acertou na baliza de Quim mas deu para perceber o poder de remate deste médio. Sem dúvida, um grande reforço para o Sporting.
Quanto à dupla de ataque, gostei de ver a forma como ambos se movimentaram e essencialmente a forma como combinaram entre si. Ambos contabilizaram um golo e uma assistência mas não se ficaram por aqui em termos de rendimento. Foram sempre duas setas apontadas à baliza de Quim e revelaram um espírito de combate e de luta francamente positivo. Se Paulo Bento for justo e coerente, sabendo da lesão de Liedson e da tardia integração de Postiga no grupo, Yannick e Derlei deverão ser as apostas de Bento para este início de temporada.

No restante, diria que Caneira cumpriu nesta nova missão de médio defensivo; Abel e Grimi foram certinhos a defender mas não trouxeram grande coisa ao nível do ataque; Tiago revelou-se sempre muito tranquilo e muito seguro, mostrando ao treinador que está lá para tentar complicar a vida aos dois garotos.

Assim, podemos dizer que a vitória do Sporting no torneio foi inteiramente merecida e podemos também afirmar que o conjunto liderado por Paulo Bento é, nesta altura, o mais capaz de contrariar o favoritismo do Porto para esta temporada.

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