EM ANÁLISE: Campeonato nacional

Ao cabo de 4 jornadas, é o Braga quem, com alguma surpresa (tendo em conta o mau arranque de temporada fruto do precoce afastamento da Liga Europa) lidera. Vi o jogo frente ao Sporting e a segunda parte deste último encontro frente ao Marítimo e parece-me uma equipa na linha daquilo que o foi com Jorge Jesus: segura a defender, tranquila a trocar a bola no meio-campo e bastante objectiva na procura do golo. Não será certamente uma candidata ao título mas esta equipa bracarense tem tudo para facilmente se apoderar do 4ª lugar. Terá, já no próximo sábado, um teste de fogo frente ao tetra campeão nacional.

Relativamente ao FC Porto, mais uma vitória, a terceira consecutiva em termos de liga. Pelo que se tem visto, o Porto contratou bem. Alvaro Pereira tem sido bastante influente no lado esquerdo (para ser sincero, parece-me melhor que Cissokho não só porque ataca melhor e demonstra ser mais seguro a defender); o argentino Belluschi é, de facto, um grande jogador e tem feito bastante bem o papel de organizador de jogo da equipa; Varela é, sem dúvida alguma, a grande revelação deste início de temporada já que, para além dos golos que tem marcado, tem dado amplitude e velocidade ao jogo ofensivo da equipa; na frente há Falcão, um avançado que tem feito golos importantes, algo que ajuda no sempre difícil processo de adaptação de um sul-americano que se estreia na Europa. A ver pela amostra, temos matador - embora ainda não me faça fazer esquecer o enorme Lisandro -.
Não há dúvida que, pese embora as importantes saídas, o Porto continua forte. A estabilidade defensiva e a mentalidade vivida no clube são factores preponderantes para o êxito do clube. Vamos ver já nesta próxima terça-feira que Porto vamos ter a nível europeu. Atenção que a inteligência de Belluschi e Meireles na forma como conseguem transitar para o ataque e a velocidade de Hulk, Rodriguez e Varela (dois destes irão certamente jogar de início) pode surpreender (tal como aconteceu em Old Trafford) o Chelsea. Veremos.

Quanto ao Sporting, mais uma vez foi entediante ver o seu futebol. Tal como acontecera em Coimbra, o resultado foi conseguido mas a exibição deixou muito a desejar. Nota-se falta de confiança em certos elementos e bastante ansiedade. Além disso, há jogadores que ainda estão longe do seu melhor momento de forma. O caso mais nítido é o do capitão João Moutinho que está longe daquele atleta raçudo e preponderante que todos lhe reconhecemos. Apareceu num raro momento de jogo e automaticamente a equipa tirou partido da situação. Falo-vos do único golo leonino, finalizado por Liedson após um primoroso cruzamento do "28".
É verdade que se nota instabilidade emocional na equipa leonina mas isso não explica tudo. Falta, no meu entender, alegria a esta equipa. Se tem a ver com a saturação relativamente aos métodos de Paulbo Bento, não sei, o que é certo é que falta prazer a este conjunto. Ainda assim, acredito que, mesmo jogando mal, se o Sporting continuar a ganhar, esse mesmo prazer é algo que vai aparecendo gradual e naturalmente. Como em tudo, as vitórias trazem outro espírito.

No que diz respeito ao Benfica, creio que os resultados ilustram bem a força com que a equipa de Jorge Jesus se tem apresentado neste principio de época. É inegável que as contratações foram acertadas. Diria que Shaffer é ainda uma incógnita (é evidente que cruza muito bem mas parece algo débil em situações defensivas e também ao nível do passe) - que seria deste Benfica se tivesse contratado Alvaro Pereira -, mas, quanto aos outros, não há dúvida que trouxeram qualidade ao plantel. Javi Garcia e Ramires são, na minha opinião, as grandes contratações desta equipa. Confesso que achei cara a transferência do espanhol e suspeitei do valor do brasileiro depois de assistir a alguns jogos deste ao serviço do Cruzeiro e da selecção brasileira. Hoje, penso que não há dúvidas que estamos na presença de dois grandes jogadores. Javi é um trinco fantástico, com uma cultura táctica enorme e excelente no jogo aéreo e Ramires é um jogador de equipa que corre o jogo todo e cumpre rigorosamente aquilo que o técnico lhe pede. Tem apimentado as suas exibições com golos mas não é a sua principal arma. Naturalmente que. com Javi Garcia na posição "6", qualquer jogador do meio-campo se arrisca a fazer golos. Jogadores para outros vôos.
Também Saviola me tem surpreendido. Fui daqueles que não vibrei particularmente com a sua vinda para Lisboa. Sabia que se tratava de um jogador de selecção e com um passado ao alcance de poucos. No entanto, talvez pelas suas características físicas (frágil, de queda fácil, remate fraco), nunca o vi como um grande avançado (pelo menos ao ponto de jogar em clubes como Barcelona ou Real Madrid). Nesse particular, mantenho a minha opinião. Agora, não há dúvida que Saviola é um jogador com uma experiência e um nível que não estamos habituados a ver no futebol português. Nota-se que sabe pisar o terreno e entende-se às mil maravilhas com o seu amigo Pablo Aimar. A juntar a tudo isto, tem sido funtamental não só para abrir espaços permitindo as entradas vindas de trás dos médios como também para a maior liberdade que Oscar Cardozo tem tido. Até ver, um bom reforço para a equipa.
Pelo exposto, diria que os reforços estão a integrar-se bem mas é o colectivo que se tem destacado nesta equipa. O sistema de Jorge Jesus tem funcionado na perfeição já que pressiona rapidamente o adversário e consegue efectuar muito bem as transições. Depois, há Aimar, Di Maria, Ramires e todos os outros que conseguem deliciar os adeptos. Um caso sério este Benfica.

Sendo ainda cedo para grandes análises, diria que temos tudo para ter um grande campeonato. Porto e Benfica parecem estar muito mais fortes que a concorrência mas atenção ao Braga que é lider e ao Sporting que, tal como venho dizendo, é de suspeitar. Continuo a achar que os "leões" têm bons jogadores do meio-campo para a frente e têm a vantagem de já jogarem juntos há muito tempo e perante a mesma equipa técnica. Falta a tal confiança e o prazer de jogar, algo que vai aparecer quando as tais vitórias aparecerem com maior regularidade. Para já, bem ou mal, levam dois triunfos consecutivos e terão, na próxima jornada, mais um jogo em casa e onde o favoritismo é total.