UMA VITÓRIA IMORAL

Portugal 2-3 Dinamarca
(Nani, Deco; Bendtner, Poulsen, Jensen)



Por vezes o futebol não tem lógica. O que se passou ontem em Alvalade vai pairar, por muitos anos, nas nossas cabeças tal como ficou, por exemplo, aquele célebre jogo entre Manchester United e Bayern de Munique na final da Champions em Camp Nou. Frente a uma Dinamarca muito forte fisicamente e muito bem organizada, Portugal conseguiu fazer 80 minutos como há muito não se via. Digo mais, foi a melhor exibição portuguesa dos últimos anos. É verdade que não ganhámos mas fizemos mais que o suficiente para ganhar tranquilamente a uma equipa que, repito, jogou ao ataque frente a Portugal e lutou, como poucas, pelos três pontos em pleno solo luso. Tivessemos estado relativamente certeiros na finalização e hoje estariamos radiantes com o resultado e com a forma como a nossa selecção se mostrou sem recorrer ao melhor jogador do Mundo. Não foi uma vitória moral mas foi uma vitória imoral. Não é justo perder um jogo quando se trabalha e joga da maneira que jogámos. Para quem diz que com Scolari jogava-se mal e ganhava-se, tenho a dizer que essa tese não é de todo verdade. Portugal jogou muito mal por diversas vezes e foi justamente penalizado contra Polónias, Sérvias, Koweits e muitas outras. Para quem também diz que voltámos ao passado e iremos necessitar da calculadora, também digo que estão equivocados. Com esta forma de jogar (mais Ronaldo), com esta atitude e com este seleccionador, não tenho quaisquer dúvidas que vamos conseguir o apuramento e com um brilhantismo que outrora não vimos.

Cinco minutos fatais

Obviamente que o que se passou nos últimos 5 minutos é algo que não tem explicação. Em primeiro lugar, a falha pouco vulgar de Quim no segundo golo dinamarquês. Depois, o facto da Dinamarca ser uma equipa muito forte no jogo aéreo, situação que temos dificuldade em lidar. Percebo que Queiróz quisesse com a entrada de Moutinho ter mais controlo da bola mas a entrada de Bruno Alves ou Fernando Meira teria sido mais lógica já que os escandinavos iriam, nos minutos finais do jogo, usar e abusar do "chuveirinho". A juntar a tudo isto, a sorte. Portugal, em jogo jogado, teve 5 claras ocasiões de golo para sentenciar a partida. Simão, Danny e Nuno Gomes na cara do guarda-redes mais o remate de Nani e o de Meireles. Já a Dinamarca, nos últimos minutos, marca um golo de bola parada onde o nosso guarda-redes é infeliz e faz um terceiro golo num lance caricato em que um remate perfeitamente inofensivo de Jensen sofre um desvio e só termina nas redes de Quim. Enfim, uma tremenda injustiça!

A exibição de Deco

Não houve Cristiano Ronaldo mas a magia de Deco fez certamente esquecer essa ausência. O número "10" português fez uma exibição sublime. Esteve em quase todos os lances do ataque, ofereceu golos aos seus companheiros, ganhou faltas, fez a equipa jogar, alterou ritmos e dinâmicas de jogo, enfim, uma exibição a fazer lembrar o velho Deco. Se houve gente que não merecia tamanha injustiça, esse alguém foi o nosso pequeno mágico.

Uma derrota nada preocupante

É verdade que perdemos em casa, algo que já não estávamos habituados mas, sinceramente, não vejo motivo para alarme. Em primeiro lugar, ainda só estamos na segunda jornada e a um mero ponto do lider. Depois, creio que a forma como temos jogado é algo que me deixa profundamente satisfeito e nada preocupado. Vemos uma equipa muito mais solta a atacar, com mais soluções (ontem vimos os dois laterais a atacar e não apenas Bosingwa), vemos uma maior entreajuda entre os sectores (sempre que há uma subida de um jogador, há logo uma compensação de um colega) e vemos uma equipa mais leve e mais rápida a circular a bola - nem quero imaginar quando Ronaldo voltar -. Por tudo isto e muito mais, o futuro só pode ser risonho. Uma coisa vos garanto, a jogar assim, certamente vamos ganhar mais vezes do que perder ou empatar. Que assim seja!