domingo, março 11, 2007

Liga Espanhola: Houve espectáculo no Camp Nou



SHOW DE MESSI NUM HINO AO FUTEBOL!

BARCELONA 3-3 REAL MADRID






Que grande jogo! Barcelona e Real Madrid proporcionaram aos amantes da modalidade um encontro do outro Mundo. Golos, emoção, defesas espectaculares, expulsões, substituições mal feitas, incerteza no resultado até final, enfim, uma panoplia de condimentos típicos de um grande espectáculo de futebol. E quem saíu a ganhar, para além de Sevilha e Valência, foi essencialmente o espectador já que o empate a 3 golos não satisfez nem Barcelona nem Real Madrid. Ainda assim, e curiosamente, os catalães ficaram mais satisfeitos com o resultado do que propriamente o Real Madrid que, efectivamente, perdeu uma boa oportunidade para ganhar mais uma vez na casa do seu eterno rival. Seria a primeira vitória de Fábio Capello no mítico Camp Nou.

AS EQUIPAS

Para este encontro, Frank Rijkaard apostou numa táctica profundamente ofensiva. O 3-4-3 tão ao jeito dos treinadores holandeses foi a aposta. Oleguer, Thuram e Puyol formaram o trio de centrais; no meio-campo, Rafa Marquez foi o trinco com Xavi, Iniesta e Deco a assumirem as despesas do jogo; no ataque, o trio maravilha composto por Ronaldinho à esquerda, Lionel Messi à direita e Samuel Eto'o ao meio, sendo que as trocas posicionais eram constantes.
Por parte do Real Madrid, a ausência de Roberto Carlos fez com que Michel Salgado voltasse ao onze titular, passando o jovem Torres para lateral esquerdo. As ausências de Cannavaro, Emerson e Beckham também se fizeram sentir na equipa madrilena. Assim, Capello apostou em Casillas, Salgado, Helguera, Sérgio Ramos e Torres; Gago, Diarra, Guti, Raúl, Higuain e o matador Nistelrooy que, mais uma vez, voltou a ser decisivo.


O JOGO DOS JOGOS

Sinceramente, conto pelos dedos de uma mão jogos que tenha assistido com a qualidade e intensidade daquele que vi ontem à noite. Assim do género, recordo-me, por exemplo, de um Barcelona - Atlético de Madrid, na década de 90, a contar para a Taça do Rei, jogo que terminou com um fantástico 5-4 para o Barcelona. No clube catalão pontificavam jogadores como Vitor Baia, Fernando Couto, Figo, Ronaldo e até Pizzi que, recordo-me, saíu do banco e ajudou o Barça a recuperar. No Atlético de Madrid, jogadores como Caminero, Kiko, Aguilera ou Pantic, este último, o número 10 que abrira o activo, davam expressão e qualidade à equipa madrilena.
Pois bem, o jogo de ontem, tal como o exemplo acima mencionado, vai certamente perdurar para sempre na minha memória. Muito honestamente, é difícil fazer aquilo que Barcelona e Real Madrid fizeram ontem. É difícil jogar com aquela brutal intensidade de jogo que os dois colossos espanhois implementaram desde o princípio do encontro até ao seu terminus. Mais, era impensável que estas duas grandes equipas fizessem o que fizeram depois de uma semana em que ambos saíram de forma justa da Liga dos Campeões. Mas, a verdade, é que o jogo de ontem aconteceu, o jogo de ontem foi mesmo real. E, como havia dito, quem ganhou foi o espectador que pôde deliciar-se com futebol de altíssimo nível.

A PARTIDA

Em relação ao jogo, creio que cedo se percebeu que as duas equipas estavam em campo para ganhar. Objectivamente, era impensável que uma delas não jogasse para tal. Se não vejamos. O Barcelona vinha de uma vitória com sabor a derrota no terreno do Liverpool e, sabendo da impossibilidade de conquistar a Liga dos Campeões, a única possibilidade de salvar a época seria conquistar o campeonato. Ora, nada melhor que uma vitória frente ao eterno rival Real Madrid para subir a moral e, mais importante que isso, ganhar uma vantagem sobre o seu opositor, diria, praticamente impossível de ser anulada.
Por sua vez, o Real Madrid, que vive humilhação atrás de humilhação, a última delas conhecida em Munique, teria obrigatoriamente de vencer para acalentar alguma esperança na conquista do título. Um novo desaire siginificava o adeus ao campeonato e isso implicava autocamaticamente nova temporada sem a obtenção de qualquer título desportivo. E já lá vão 4 épocas!!
Neste contexto, assistimos a uma primeira parte verdadeiramente alucinante parte a parte. O Barcelona entrou melhor no jogo mas quem marcou foi o Real Madrid por intermédio de Nistelrooy num remate colocado sem hipóteses para Valdez. O sistema virado para o ataque de Rijkaard conhecia bem cedo o primeiro desgosto.
Mas, quem olhava para a equipa do Barcelona e via tanta gente de qualidade do meio-campo para a frente, naturalmente que antevia, mais minuto menos minuto, golos por parte do Barcelona. E foi isso que Messi se encarregou de fazer à passagem do minuto 11. Estava reposta a igualdade e imaginavam-se momentos difíceis para o Real Madrid.
Contra todas as expectativas, um minuto depois, uma nova investida dos madrilenos ao ataque significou novo golo. Guti foi carregado por Oleguer e o árbitro assinalou de imediato a marca da penalidade. O central viu a cartolina amarela e Nistelrooy fez o segundo do Real, mostrando, mais uma vez, a sua enorme frieza em transformar lances deste género.
Doze minutos de jogo e já 3 golos. Todos nós sabiamos que iria haver reacção do Barcelona. O 3-4-3, mais do que nunca, era motivo mais que suficiente para a equipa da casa atacar, pressionar e lutar em busca de um outro resultado. E foi efectivamente o que aconteceu. A máquina blaugrana começou a funcionar com maior acutilância o que fez com que o Real Madrid vivesse momentos de grande turbulência. Assim sendo, o golo de Messi que aconteceu por volta do minuto 28 foi algo perfeitamente esperado.
Reposta a igualdade, o jogo conheceu um quarto de hora final mais equilibrado, muito embora o Barcelona tivesse sempre com sinal mais. Recordo-me, por exemplo, de uma boa defesa de Iker Casillas a remate de Eto'o (isolado) que fez com o resultado se mantivesse igual no final dos primeiros 45 minutos. Contudo, a primeira parte não terminaria sem antes Oleguer ver o segundo amarelo e a consequente expulsão. A entrada do central espanhol sobre Gago não deu outra alternativa ao árbitro. O Barcelona teria agora de jogar com menos uma unidade todo o segundo tempo. Naturalmente que a ausência de Oleguer obrigava Rijkaard a ter de fazer alterações. Jogar num sistema de 2-4-3 frente ao Real Madrid seria deveras arriscado. O treinador holandês preferiu esgotar uma alteração (já lá vamos) mas também poderia ter recuado Marquez passando a jogar num sistema de 3-3-3. Rijkaard assim não quis e preferiu mesmo mexer na equipa.
Normalmente, o treinador de bancada tem sempre o seu palpite, tem sempre as suas ideias. Como é natural, na minha maneira de pensar, Rijkaard "perdeu" o jogo na alteração que efectuou ao intervalo. Como já tinha referido, creio que recuar Marquez mantendo os 3 defesas era a melhor solução. Sinceramente, achei muito mal feita a alteração que o treinador do Barcelona fez. Tirar Samuel Eto'o, o avançado da equipa que estava a fazer um jogo de altíssimo nível e colocar Sylvinho foi como que dizer ao adversário que o empate já sabia a vitória. Na minha maneira de ver, a fazer alguma alteração, nunca abdicaria de um dos 3 jogadores da frente. Mostrar medo ao adversário normalmente dá maus resultados. E depois não é só isso. O intuito de Rijkaard, numa primeira instância, passava por equilibrar novamente a equipa de modo a não ser surpreendido pelo Real. Mas... e se fosse? e se o Real Madrid marcasse, como veio a acontecer? se a "porta fosse arrombada", como é que era? colocávamos novo ponta de lança em busca de nova igualdade, isto quando o adversário mais moralizado e com uma unidade a mais não teria tantos problemas em suster as investidas do adversário? pois bem, o Real marcou mesmo e teve sempre o jogo controlado até final já que o Barcelona nunca mais conseguiu responder da melhor forma.
O curioso é que estou mais que convencido que se o Barcelona mantivesse Messi, Ronaldinho e Eto'o na frente e se mantivesse, de certa forma, o ritmo à partida que estava a impor desde o primeiro minuto, pois creio que o Real Madrid corria sérios riscos de perder a partida. Rijkaard optou por outra estratégia e deu num empate que caíu simplesmente do céu, ou, se preferirem, dos pés de Messi que fez um golo monumental. Quem tinha dúvidas do valor deste argentino, depois do jogo que o mesmo efectuou, desfez essas mesmas.

A segunda parte foi, logicamente, menos intensa do que a primeira. E não era para menos. O Barcelona jogava com menos um elemento e o Real Madrid, apesar de confiante pela vantagem numérica, sabia de antemão que com Ronaldinho e Messi em campo, toda a atenção era pouca. Como havia referido, a estratégia de medo de Rijkaard implicou desde logo uma subida das linhas do Real Madrid. Ferido no seu orgulho por tudo o que tem passado esta época, os madrilenos queriam mostrar que afinal têm valor e têm qualidade suficiente para lutar por títulos. Confesso que pelo que tinha visto de Real Madrid esta temporada, se me dissessem que a exibição do Madrid ontem era real e possível, eu não acreditava.
O que é certo é que, na etapa complementar, a equipa de Capello assumiu o jogo e o Barcelona passou um mau bocado. O Real dispôs de inumeras ocasiões para marcar o segundo golo. O problema foi que aparaceu inesperadamente um heroí improvável: Victor Valdez. O guardião espanhol efectuou 3 ou 4 defesas do outro planeta. Lembro-me perfeitamente de uma em que Valdez negou o golo a Nistelrooy quando o holandês se encontrava completamente isolado. Ruud tentou picar a bola sobre o espanhol mas este, com uma magnífica agilidade, conseguiu com uma mão negar autenticamente o golo ao ponta-de-lança.
Não marcou Nistelrooy, marcou Sérgio Ramos de cabeça num pentear de bola fabuloso. Nem o proprio queria acreditar quando viu a bola no fundo das redes, isto apesar da plena intensionalidade do central no gesto efectuado.
Com nova vantagem madrilena e com o jogo a aproximar-se do seu final, já ninguém acreditava que houvesse novo golo catalão. Rijkaard ainda lançou Gudjhonsen em jogo mas, como era de esperar, nada de significativo trouxe ao ataque blaugrana.
O problema disto tudo é que quem tem Ronaldinho ou, neste caso específico, quem tem Lionel Messi, arrisca-se a, do nada, aparecer um lance de génio, um golo fabuloso ou uma jogada do outro Mundo. Pois bem, o puto maravilha fez o que as imagens documentam. Estaria a ser injusto se adjectivasse o lance do argentino porque sinceramente não há muitas palavras que qualifiquem o golo e a exibição do extremo.
Palavras para quê. Messi deu literalmente um ponto ao Barcelona que permitiu ao clube manter a diferença pontual sobre o Real Madrid. Já o Madrid, se não ganhou desta vez, quase que diria que dificilmente volta a ter oportunidade para ganhar no Camp Nou.
Grande espectáculo... obrigado às duas equipas!

Sem comentários: