Um olhar pelo campeonato sul-americano de sub-20

Confesso que tenho particular interesse em seguir competições menos mediáticas porque gosto de conhecer novos jogadores e, acima de tudo, dá-me gozo ver torneios de jovens já que há mais riscos, há menos rigor táctico e há mais jogadas individuais e de futebol espectáculo.

Neste sul-americano de sub-20, o destaque vai para a presença do benfiquista Urreta que representa o Uruguai. Ainda não tive oportunidade de assistir aos jogos dele mas posso adiantar-vos que entrou bem na primeira jornada frente à Bolivia (assistiu um seu companheiro no segundo golo) e na segunda ronda (vitória uruguaia 3-2 ante o Chile) jogou os noventa minutos. Tentarei assistir ao jogo do Uruguai com o Brasil e espero que o "nosso" Urreta jogue.

Porventura ainda é cedo para vos apresentar os jogadores que mais me impressionaram. Decorridas duas jornadas, apenas vi um jogo do Brasil e um da Argentina (até porque os argentinos folgaram nesta segunda ronda). Além disso, confesso que fiquei um pouco desiludido com as prestações destes dois colossos mundiais, já que esperava uma superioridade bastante significativa destes para as demais selecções e tal não se verificou. Assisti ao sofrido Brasil 2 Bolívia 1 e também ao Venezuela 1 Argentina 1.

Numa rápida comparação entre Brasil e Argentina (volto a dizer que ainda disponho de poucos dados para fazer uma análise objectiva), pareceu-me ver uma selecção alvi-celeste bem mais organizada e até mais adulta nas suas transições. É curioso que ambas jogam com dois avançados, sendo que no meio-campo a Argentina utiliza um quatro mais clássico (com dois alas) enquanto que o Brasil prefere uma espécie de losângo, se bem que com algumas nuances já que as três unidades à frente do trinco (no caso Sandro, o capitão de equipa) têm liberdade para jogar no campo todo. Por um lado é interessante esta mobilidade no meio-campo já que, de certa forma, perturba o adversário mas, por outro lado, faz com que não hajam tantas rotinas nessa zona nevrálgica do campo.

Emiliano Insua e Douglas Costa, os mais conhecidos

Por parte da Argentina, devo dizer-vos que apenas conhecia Emiliano Insua, defesa esquerdo que já foi várias vezes utilizado por Rafa Benitez no Liverpool. Todos os outros eram jogadores desconhecidos. Frente à Venezuela, o facto da selecção argentina ter sofrido um golo logo no primeiro minuto de jogo, talvez tenha condicionado a equipa. Ainda assim chegaram à igualdade através de um remate cruzado de Eduardo Salvio mas, apesar do dominio do jogo, nunca mostraram argumentos válidos para ganhar a partida. Salvio, o extremo direito do Lanus (18 anos) que marcou o golo, foi mesmo o jogador que melhores pormenores mostrou. Sendo extremo, muitas vezes deslocava-se para o meio e, através das suas jogadas individuais, tentava desequilibrar a bem organizada defensiva venezuelana.

No Brasil, Douglas Costa é o cabeça de cartaz desta selecção. Apesar de apenas conhecê-lo de nome (o próprio Freitas Lobo já o apresentou nas suas rubricas no jornal "A Bola"), era o único jogador que "conhecia" entre todos os outros. Pelo facto de Luis Freitas Lobo e a imprensa brasileira o descreverem como um jogador de grande futuro, tinha, obviamente, curiosidade em vê-lo jogar. Contra a Bolívia, Douglas Costa mostrou alguns pormenores mas nada de transcendente. É o dono das bolas paradas de equipa e foi precisamente num livre que teve o seu melhor momento. Num livre a descair para a direita, tentou com o pé esquerdo (o seu melhor pé) surpreender o guarda-redes boliviano através de um remate rente à relva. Valeu a intervenção do guarda-redes que espalmou para a linha de fundo. Ainda a respeito do número "8" canarinho, não sei se por lesão ou não, a verdade é que foi substituido ao intervalo.

Ainda a respeito do Brasil, a canarinha apresenta um 4-4-2 losângo em que os laterais são muito ofensivos. Pareceu-me que a defesa é o ponto mais fraco desta equipa. No miolo, Sandro é o trinco, Douglas Costa e Giuliano são os médios interiores e Renan Oliveira é o "10" na camisola e no papel. Na frente, Dentinho e Walter são as referências do ataque.

Giuliano e Walter foram os jogadores que mais me agradaram. Walter é o avançado da equipa e essencialmente é rápido na forma como aparece no espaço vazio. Leva já dois golos e é um jogador a rever. Já Giuliano, foi, na minha opinião, o melhor jogador em campo frente à Bolívia. É um jogador com capacidade técnica (ou não fosse ele brasileiro) mas tem a particularidade de correr muito e de lutar por todas as bolas. Pareceu-me ser o jogador mais adulto desta selecção.

Em suma, é ainda muito cedo para tecer grandes comentários sobre individualides ou ainda colectivos candidatos ao título. Terei certamente oportunidade de ver mais jogos em que participem Brasil, Argentina e Uruguai, no fundo, os eternos candidatos. Deixo-vos com alguns dados do que vai de competição:

BRASIL: (como jogou frente à Bolívia)

1. Renan (GR); 2. Patric (DD), 6. Everton (DE), 4. Rafael Tóloi (DC), 3. Welinton Souza (DC); 5. Sandro (MD), 7. Giuliano (MC), 8. Douglas Costa (MC), 10. Renan Oliveira (MAC); 11. Dentinho (AV), 9. Walter (AV)

ARGENTINA: (como jogou frente à Venezuela)

1. Ojeda (GR); 4. Meza (DD), 3. Insua (DE), 2. Tobio (DC), 6. Fernandez (DC); 7. Salvio (MDIR), 5. Benavides (MD), 16. Benitez (MC), 19. Ivan Bella (MESQ); 15. Andres Rios (AV), 11. Cristaldo (AV)

GRUPO A

Equador
Colômbia
Venezuela
Argentina
Perú

GRUPO B

Brasil
Uruguai
Chile
Bolívia
Paraguai

*Passam à próxima fase os três primeiros de cada grupo