sábado, abril 21, 2007

BOLA AO POSTE!



É incrível como um simples jogo de futebol tem a capacidade de mudar opiniões e estados de espírito numa fracção de segundos. É a bola que vai ao poste e caprichosamente não entra, é o avançado que isolado não consegue desfeitear o guarda-redes contrário, é a bola que é salva na linha de golo pelo defesa; enfim, é o Mundo do futebol que, por tudo aquilo que envolve, tem a capacidade de apaixonar multidões.

Confesso que ultimamente ando um pouco desiludido. Sim, estou a falar particularmente do Sport Lisboa e Benfica. Um pouco à imagem daquilo que se passou com o Sporting de José Peseiro, parece que, num curto espaço de tempo, todos os "sonhos" caíram em "saco roto".

Analisando com algum pormenor o trajecto do Sporting de Peseiro e do Benfica de todos os Santos, parece-me evidente que em ambos os casos, houve sentimentos muito similares. Qualidade de jogo, motivação, atitude, vitórias moralizadoras e muita esperança por um lado; falta de consistência, desgaste psicológico, irregularidade exibicional e bolas ao poste, por outro.
José Peseiro tentou fazer do Sporting uma equipa de ataque e bastante pressionante. Creio que, na larga maioria das vezes, o conseguiu. O Sporting fez jogos de grande qualidade e mostrou-o não só no plano interno. Recordo-me por exemplo de dois jogos fantásticos da equipa em Feyenoord e com o Newcastle. Houve, no entanto, factores que vieram a revelar-se fatais para o pobre desfecho da época leonina e, na minha opinião, não tão parecidos como aqueles que podemos apontar a este Benfica. Ao contrário de Fernando Santos, José Peseiro primava pelas constantes rotações no plantel. Havia jogos em que o técnico do Sporting fazia 6 e 7 alterações sem qualquer tipo de problema. Assim sendo, problemas de ordem física, salvo raras excepções, nomeadamente o excesso de peso de Rochemback, nunca foi um problema. Costuma dizer-se que por vezes a manta é curta. Para se tapar a cabeça destapa-se os pés e vice-versa. Pois bem, neste aspecto, podemos desde logo apontar uma grande diferença na equipa de Peseiro em comparação com a de Fernando Santos. A equipa do Sporting nunca era a mesma. De jogo para jogo, Peseiro efectuava sempre alterações. A equipa ganhava em termos físicos mas perdia claramente ao nível das rotinas. O resultado disso era a forma como o Sporting tanto era capaz de ganhar na Holanda como depois perder em casa com o Penafiel.
Com Fernando Santos, a história é outra. Desde o início de época que não há rotação para ninguém. Há 13 jogadores para 11 lugares e os outros limitam-se a ver os jogos mais de perto que o comum adepto. Se é certo que a equipa ganhou muito em termos de rotinas e de uma melhor interligação entre sectores, naturalmente que o perdeu num plano físico. E todos nós sabemos o quão fundamental é este aspecto no futebol moderno. É impossível uma equipa ter resultados minimamente positivos se não tiver um plantel competitivo e capaz de enfrentar duras batalhas em várias frentes. E se tivermos em linha de conta que quase todos os jogadores do onze base do Benfica são internacionais e, como tal, ainda têm mais jogos e menos dias de férias, fica claro que é muito difícil conseguir aguentar uma época sempre a um alto nível.

Propositadamente, comecei no início deste post por falar na incerteza que é o futebol. O título do texto também não foi escolhido ao acaso.
Analisadas algumas semelhanças e algumas diferenças nas temporadas do Sporting de há duas épocas e do Benfica de agora, optei por deixar para último o factor que me parece mais importante no meio disto tudo: a bola que vai ao poste e que não entra!
Nem mais. Depois de expostos alguns dos pontos fortes e fracos de cada equipa, há claramente um aspecto que nenhum dos dois tem a capacidade de controlar ou até mesmo de contratar: o factor sorte e o factor azar. Parece-me de todo lógico falar neste ponto porque é este mesmo que muda literalmente o estado de espírito de uma equipa, do adepto, do treinador, do presidente, de todos aqueles que vivem o futebol. Bastaria a bola não ter ido duas vezes ao poste contra o CSKA e o Sporting teria no seu curriculum uma Taça Uefa conquistada; bastaria que as bolas ao poste que o Benfica enviou nos últimos tempos se transformarem em pontos e golos para que falássemos hoje num Benfica perto do título e num Benfica perto de Glasgow; bastaria mas não bastou porque não entraram e é essa a triste realidade para os dois históricos alfacinhas. Foi sorte para os outros? azar para Sporting e Benfica? sim, podemos facilmente chegar a essa conclusão. Agora, o problema é que não nos podemos agarrar a estas coisas da felicidade ou infelicidade no futebol. Para mim, e falando do Benfica, é mais importante saber os aspectos que fizeram com que a infelicidade aparecesse mais vezes do que devia. Porque é que José Mourinho é mais feliz que todos os outros? será que é por ter mais sorte? será que é por ter menos azar? será que é por a bola bater no poste e entrar mais vezes do que aquelas que sai? a resposta é simples. Há varios aspectos (todos nós sabemos quais!) que fazem com que a sorte sorria mais vezes ao treinador português. Costuma dizer-se que a sorte proteje os audazes. Nem mais!!
A verdade é que o Sporting de Peseiro e o Benfica de Fernando Santos não tiveram a estrelinha da sorte porque efectivamente tiveram precalços que fizeram com que os seus sonhos se tornassem autênticos pesadelos. E quando assim é...

Espero sinceramente que o Benfica aprenda com os erros que cometeu nesta temporada. Mais importante do que ficar em 2º ou 3º lugar - para mim a época perdeu o interesse -, é essencial começar a preparar a próxima temporada. Se o Benfica quiser efectivamente ser uma equipa competitiva em todas as frentes, então terá de procurar construir um plantel competitivo e com mais qualidade, especialmente no banco. Desde já alerto que não é com Zés do Gol que a coisa lá vai. Depois queixem-se que a bola vai ao poste e não entra!

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