segunda-feira, abril 23, 2007

CONDIÇÃO FÍSICA!



Um artigo colocado no jornal "A Bola", este Domingo, a respeito do Hannover não estar interessado no regresso do boavisteiro Ricardo Sousa, fez-me pensar sobre um assunto que é cada vez mais importante no futebol actual: a condição e preparação física de um jogador.

HANNOVER não quer R. Sousa

"Apesar de ainda ter contrato com os alemães, Ricardo Sousa está fora dos planos do Hannover 96 para a próxima época" (...). "Ele parece que quer voltar mas não estamos interessados. Faz pouco sentido possibilitar o terceiro regresso do Ricardo Sousa. Não encaixa na nossa concepção de jogo e, além disso, não tem condição física" - disse Christian Hochstaetter, director desportivo, ao site do clube.

Efectivamente, parece-me que esta confissão do agente desportivo deste mediano clube alemão quer dizer muita coisa. Ricardo Sousa, o visado, serve de exemplo para uma série de opiniões que venho criando na minha cabeça há muito tempo. Vamos por pontos.

1. Creio que ninguém tem dúvidas da qualidade de Ricardo Sousa. É o típico número 10, um jogador cerebral, com um bom pé esquerdo, forte nas bolas paradas, portanto, um atleta que trata com requinte a bola. Penso que não há muitas dúvidas sobre isso. Aliás, não foi por acaso que despertou o interesse do FC Porto ou até mesmo de clubes estrangeiros.

2. Todos estes requisitos atrás referidos fazem de Ricardo Sousa um jogador com capacidade para jogar em equipas de top nacional? na minha opinião, deviam fazer. Um jogador que pensa bem o jogo e tem a capacidade técnica suficiente para resolver partidas, naturalmente que deveria facilmente encaixar numa equipa grande.

3. Se me perguntassem se eu gostaria de ver o Ricardo Sousa no Benfica? a resposta também era simples e objectiva. NÃO. O jogador do boavista não tem aquilo que um médio do futebol moderno deve ter: argumentos físicos.

4. Infelizmente no futebol português, temos vários casos que fazem com que os "Ricardos Sousas" do nosso futebol se percam ano após ano. Quem não se recorda da magia de Dani que lhe permitiu o ingresso para o Ajax; quem não se lembra de Hugo Porfírio, um esquerdino com uma classe acima da média; que dizer de Dominguez, a "minhoca" que possuia um vasto leque de truques. Todos estes exemplos, tinham algo em comum: eram artistas com a bola nos pés mas não possuiam valores preponderantes para vingar no futebol actual: falta de cabeça, muitas noites perdidas, treinos com muito pouca disponibilidade e, obviamente, má condição física para atacar uma longa temporada com várias competições em disputa.
Podemos também dar um outro exemplo que nos ajuda a explicar a importância da condição física dos atletas. Tome-se o caso do jogador Zahovic. Aí está mais um esquerdino fabuloso, um número 10 "à antiga" que deu cartas no futebol português e no futebol espanhol. O esloveno foi sempre um jogador válido não só pela sua preponderância ofensiva como também pela sua capacidade em jogar sem bola. Naturalmente que para durar uma temporada com campeonato, taça, liga dos campeões e selecção à mistura, Zahovic teria que ter uma capacidade física minimamente aceitável para poder ser o jogador que foi na realidade. Ora, a partir do momento que Zahovic perdeu a componente física, possivelmente devido à idade e também às sucessivas épocas ao mais alto nível, o esloveno tornou-se um jogador vulgar, tornou-se parte do problema e não da solução. Como tal, foi inevitável o seu afastamento das equipas de top.

5. Outro aspecto que me parece fundamental para o sucesso ou insucesso de determinado jogador é a componente atlética. Esta está indissociada, naturalmente, à componente física. José Mourinho já o referia, e quanto a mim, muito bem, ao facto da altura ser um factor fundamental no futebol. Hoje em dia, o futebol é cada vez mais um jogo de pormenor e, normalmente, são os lances de bola parada que fazem pender a balança para um lado. Parece-me que ter uma defesa e um médio defensivo de boa estatura é essencial. Se repararmos, o Benfica possui dois laterais que quase passavam na porta de um sotão. Apesar de terem qualidade, jamais Mourinho aceitava tal coisa numa equipa de alto nível. Possuir um jogador mais pequeno mas rápido na sua defensiva era aceitável; dois laterais dessa natureza era impensável.

Sintetizando, parece-me que é fundamental uma equipa apostar em jogadores com capacidade técnica e capacidade mental mas é deveras importante adquirir atletas com um bom suporte físico e uma boa estrutura atlética para poder enfrentar as batalhas internas e externas. Não tenho dúvidas que houve equipas que falharam os seus objectivos pelo simples facto de não estarem preparados para o enorme desgaste de toda uma temporada. Apontar o dedo ao treinador é o mais fácil de fazer quando os objectivos propostos não são alcançados. Pois bem, tal facto é legitimo e muitas vezes tem a sua razão de ser. Agora, há que ter em atenção que muitas vezes o treinador não tem culpa das contenções financeiras da direcção que faz com que o plantel não seja homogéneo, não seja vasto em quantidade e essencialmente qualidade.

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