REFLEXÕES

Quem me conhece sabe que prefiro muito mais falar e escrever sobre o(s) jogo(s) de futebol (literalmente) do que propriamente sobre casos de arbitragem, polémicas de bastidores, casos com direcções, seleccionadores ou treinadores, etc... Tendo essa permissa como ponto de partida, devo dizer que muito pouco há a dizer sobre Portugal neste duplo confronto europeu. Às vezes os resultados não querem dizer tudo mas, neste caso, o desastre de ontem e o terramoto de sábado são, a meu ver, surreais e espelham na perfeição aquilo que se está a passar no seio da equipa. Um conjunto de jogadores sem ambição, sem vontade, sem interesse pela causa a que foram pré-designados - talvez também por virmos de um pós-mundial e um início ainda não decisivo de uma qualificação para um europeu que só terá lugar em 2012 - e, quanto a mim o ponto mais grave, sem condições mentais para suportar os problemas extra-futebol que estão a viver. Por tudo isto e muito mais, acho que a selecção merece o desprezo dos adeptos até prova em contrário.

Uma palavra para Eduardo. Não há dúvida que ficou inteiramente ligado ao único golo da Noruega - custa tanto ver uma equipa perder contra uma selecção tão fraquinha e que, contra um Portugal de "terceiro mundo", não fez (praticamente) um remate à baliza e ganhou o jogo - mas, muito sinceramente, digo: se alguém merecia mais sorte nestes dois confrontos era precisamente o actual guarda-redes do Génova. É de uma dedicação ao jogo, procura sempre trabalhar os pontos fracos, falar com os colegas, incentivar, enfim, nunca pensei dizer isto mas, se alguém do actual grupo merecia outro desfecho era precisamente Eduardo.

Sobre os outros jogadores, Bruno Alves em péssima forma, Miguel (no primeiro jogo, no Mundial, nos últimos anos, etc...) provou que não pode continuar a ser chamado para a selecção. É um "crime" este jogador continuar a fazer parte de uma equipa como o Valência. Não sei se Silvio é a solução, Paulo Ferreira também não é grande espingarda mas, na ausência de Bosingwa, terá de ser um destes a aguentar aquele lado.
No meio-campo, gostei de ver o regresso de Manuel Fernandes, jogador que sempre apreciei e sempre defendi como jogador com valor para ser chamado com regularidade por Queiróz. Ainda longe do ideal mas, no meio da mediocridade, até foi dos menos maus.
Tiago e Meireles... sim mas ainda longe da melhor forma; Danny completamente fora do espírito da selecção, isto apesar de o achar com talento; Quaresma razoável mas com os defeitos que não lhe permitem explodir nos melhores campeonatos europeus; Hugo Almeida esforçado mas abandonado e Nani com muito talento mas muito desapoiado. Pela análise, dá para ver que os nossos jogadores, individualmente falando, têm talento mas falta qualquer coisa. Aliás, falta muita coisa. Diria mesmo que falta o principal: alguém que compreenda os atletas e alguém que faça de um conjunto de jogadores uma verdadeira equipa. Neste momento estamos longe de formar um bom plantel, mesmo considerando que, apesar das desistências de última hora, a matéria prima continuar a ser interessante. Nem todas as selecções se podem dar ao luxo de dizerem que têm 2 centrais do Real Madrid, um lateral do Chelsea, um defesa esquerdo do melhor que há na Europa, um médio do Liverpool, outro do Atlético de Madrid, mais um do Valência e extremos como Nani e Ronaldo (que dispensam apresentações). Mesmo o avançado, não sendo nada do outro Mundo, joga no Werder Bremen. E a juntar a tudo isso, há uma imensidão de jogadores com talento (Moutinho, Micael, Martins, Varela, Amorim, Veloso, Bebé, etc...) que, em 2012, poderão ter uma palavra a dizer.

A tarefa está difícil, o barco está à beira de ir ao fundo mas os icebergs (entenda-se, adversários no grupo) são tão acessíveis e tão fraquinhos - apesar dos resultados e dos últimos confrontos com a Dinamarca deitarem por terra esta minha opinião) - que, muito sinceramente, ainda acredito no apuramento. Para já, está negro o cenário.