terça-feira, outubro 10, 2006

O Futebol que temos!






Com o campeonato nacional parado devido a compromissos das selecções, achei relevante e até pertinente falar sobre um tema que, no mundo do futebol, é muito pouco discutido. Ora, o que realmente gostaria de analisar com este artigo e, quem sabe, trocar opiniões com alguns visitantes do blog, é a questão do posicionamento de determinados jogadores, sobre o tempo de adaptação dos mesmos ou até mesmo a prestação de determinado atleta consoante a tactica ou o companheiro de equipa que faz parceria num determinado sector do campo. Esta história, à primeira vista, poderá não ter ponta por onde se lhe pegue. No entanto, baseando-me em exemplos concretos, creio que o leitor poderá ter uma melhor visão da essência deste post.

A QUESTÃO DO TEMPO NO FUTEBOL

Como é sabido, o tempo é fundamental no futebol. Nenhum treinador consegue idealizar uma equipa e implementar um sistema de jogo em dois dias. Por sua vez, um jogador, por muito bom que seja, naturalmente que necessitará de tempo para se ambientar às ideias do treinador e às maneiras de jogar dos companheiros de equipa. Depois, haverá outras conjecturas como o clima, o país, a comida ou a língua que ajudam ou prejudicam um qualquer atleta.

Mediante esta questão, vamos aos primeiros exemplos. Em Inglaterra, temos um treinador chamado Arséne Wenger, actual treinador do Arsenal. O Francês foi para Inglaterra e, mesmo sabendo da hegemonia do Manchester United, pegou na equipa e mediante o conhecimento que tinha do futebol francês, começou a construir um plantel à sua imagem. A direcção dos "gunners" deu tempo ao treinador para fazer a equipa à sua imagem. Hoje, com o mesmo treinador, o Arsenal é uma das melhores equipas do Mundo. Tome-se também o caso de Rafael Benitez, treinador que tem feito épocas pouco conseguidas, isto no que diz respeito à Premiership, mas, sabendo da confiança que lhe foi depositada por parte da direcção, tem feito, aos poucos, uma grande equipa que inclusivé já foi campeã da Europa de clubes.
Partindo para outro campeonato, aterramos em Espanha, mais precisamente, em Barcelona. O técnico holandês Frank Rijkaard, treinador sem experiência, foi uma das armas de Laporta, actual presidente blaugrana. O holandês, de ínicio muito contestado, foi sempre tendo o apoio da direcção do clube. Pois, Rijkaard, com tempo e espaço de manobra, foi formando um conjunto que é só, hoje em dia, o número 1 do Mundo. Se Rijkaard tem sido despedido após um mês ou dois de trabalho, duvido que o Barcelona tivesse a equipa que tem hoje.
Chegando a Portugal, local que é, no fundo, onde realmente quero aprofundar todas as questões que forem apresentadas neste artigo, prendemo-nos com uma interssante permissa: para quem quer que seja, não há tempo algum. Com efeito, os adeptos exigem resultados imediatos, exigem que a contratação A marque 3 ou 4 golos no primeiro jogo oficial, exige que o treinador ganhe todos os jogos que disputa, exigem que a equipa jogue bem em todos os jogos, seja em que período da época for, seja com quem for.
Ainda em relação a treinadores, veja-se o caso de Fernando Santos. O treinador do Benfica começou a ser criticado bem antes do mesmo ter entrado na Luz. É verdade que os encarnados não entraram bem na presente temporada. E daí? depois das questões que houve em torno de Simão, depois do caso de Karagounis, as lesões de Miccoli e Rui Costa, as naturais adaptações de Manú, Paulo Jorge, Katsouranis, Kikin ou Miguelito... será que isto tudo não influencia uma equipa? e o sistema de jogo? uma equipa que anda há três ou quatro épocas a jogar num 4-2-3-1, de repente muda para um 4-4-2 em losango como aconteceu no príncipio de época... será que a equipa estava preparada para obter resultados imediatos? pois é, são estas questões que, muitas vezes, são ofuscadas pelos adeptos e fazem com que um trabalho que até poderá vir a dar frutos no futuro, venha por água abaixo à minima adversidade.
Veja-se também o caso de Jesualdo Ferreira no Braga. O "professor" desenvolveu um projecto no clube que visava atingir objectivos mais animadores passado duas ou três épocas. O presidente do clube aceitou esse desafio e apostou na experiência do treinador português. Construindo uma equipa à sua imagem, tendo o tempo necessário para desenvolver o seu trabalho, os resultados, hoje em dia, estão à vista.
Portanto, é essencial dar tempo ao tempo, como se costuma dizer. No Sporting, Paulo Bento teve a época passada para montar uma equipa e um plantel segundo a sua filosofia e maneira de trabalho. Acredito piamente que o Sporting nos próximos anos vai ter muitos êxitos à conta de Paulo Bento e, obviamente, da direcção.
No Porto, Pinto da Costa já afirmou que vai contar com Jesualdo Ferreira por muitos e bons anos. Pois bem, também estou convencido que o Porto vai ser nos próximos meses uma equipa muito forte e com grandes ambições quer no campeonato quer na Liga dos Campeões.
Já no Benfica, curiosamente, acredito que também vai ter coisas boas com Fernando Santos. Luis Filipe Vieira é um grande presidente e dificilmente vai mudar a opinião que tem a respeito do engenheiro. Ora, eu sou daqueles que ainda estou do lado de Fernando Santos e ainda acredito que vamos ter um Benfica forte e ao nível do Porto e do Sporting. Agora, é tudo uma questão de tempo!

UMA QUESTÃO DE ADAPTAÇÃO

Outro dos temas que vos queria falar era do posicionamento e das adaptações no futebol. Pois bem, tomando como exemplo os três grandes, gostaria de analisar algumas situações. Vamos por pontos:

1. O caso Liedson




Em relação ao Liedson, se bem me lembro, o brasileiro foi, nestas últimas épocas, o melhor marcador da equipa leonina. Se olharmos para a ficha do brasileiro desta época, podemos constatar que o "levezinho" apenas contabiliza um golo e de grande penalidade.
Pergunta simples: O que mudou da época passada para esta? a resposta é igualmente simples. Liedson não perdeu o faro pelo golo, simplesmente ainda não se encontra na sua melhor forma, algo que é perfeitamente natural. Mas não é só. Se repararmos, este ano Liedson já formou dupla de ataque com Carlos Bueno, Yannick Djaló e Alecsandro. Pergunto, quantas vezes jogou Liedson com qualquer um destes jogadores nas épocas transactas? creio que a resposta todos saberão.
Agora, este caso leva-nos irremediavelmente para outro. Se um outro avançado, recentemente contratado por um grande, jogasse 5 jogos como titular, todos eles quase com a totalidade dos minutos, e marcasse apenas 1 golo e de grande penalidade, o que dirião os adeptos, o que diria a imprensa desportiva? é evidente que por muito bom que esse jogador fosse, teria naturalmente pouca margem de manobra. E porquê? porque o tempo é coisa que não existe em Portugal. E depois quando se perde um "Liedson" porque não se deu tempo ao tempo e vê o mesmo marcar "n" golos no país vizinho...

2. Katsouranis viu-se "grego"

Creio que Katsouranis é um caso gritante de como um jogador só funciona mediante determinada função em campo, mediante determinado posicionamento. Na pré-temporada e nos primeiros jogos oficiais do Benfica, Katsouranis jogou sempre ao lado de Petit, ambos como médios defensivos. Resultado? sempre que os dois foram titulares, um anulava-se ao outro. Creio que houve um ou outro jogo onde ambos cumpriram. Aliás, quando se tem atitude, é dificil não cumprir. Agora, creio que é notório que um destes jogadores, sozinho, rende muito mais e é suficiente. É a velha questão, um é excelente, dois são de mais. A expulsão de Petit no Bessa obrigou Fernando Santos a jogar unica e exclusivamente com um médio defensivo, no caso, Katsouranis. Pois, nos jogos imediatos viu-se um Katsouranis absolutamente transfigurado, com um sentido táctico fantástico, justificando o porquê de ser peça fundamental na selecção grega. Digo mais, a jogar com um médio defensivo, tenho muitas dúvidas entre o melhor Katsouranis e o melhor Petit.
Este exemplo é facilmente comparável aos casos de Frank Lampard e de Steven Gerrard na selecção inglesa. Como é sabido, estes dois jogadores são, actualmente, dois dos melhores centro-campistas do Mundo. Porém, o que é certo é que, fruto de possuirem características muito semelhantes, quando estão a representar a sua selecção, não conseguem mostrar todo o seu potencial. Parece que um está a ocupar o espaço do outro e, ao mesmo tempo, a ofuscar o potencial do companheiro.
Cabe ao treinador detectar estas "pequenas-grandes" questões. São estes detalhes que definem o bom do grande treinador. Nem sempre é o jogador o culpado de não render. Muitas vezes acusa-se o atleta de não correr, de não se esforçar, de não jogar tão bem quanto mostrou no clube anterior, quando, no fundo, não se sabem as verdadeiras razões para o sub-rendimento do atleta. Já viram se, por exemplo, Jaime Pacheco treinasse Rui Costa e o obrigasse a jogar da mesma forma que fazia com Lucas? se calhar perdiasse um jogador e não era por o mesmo não saber. Pensem nisto!

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