segunda-feira, junho 09, 2008

GRUPO C: Grande Holanda derruba Itália na estreia


Holanda 3-0 Itália
(Van Nistelrooy, Sneijder, Van Bronckhorst)



Depois de Portugal e Alemanha, foi a vez da Holanda apresentar a sua candidatura ao título europeu. E que apresentação! Para quem só através de livros ou dos canais história tinha ouvido falar da famosa laranja mecânica, pois bem, a Holanda desta noite voltou a ser tão ou mais demolidora que aquela conhecida no passado. No melhor jogo do Euro, ficará para a história esta exibição dos holandeses e esta sensacional vitória frente à Itália, 30 anos depois.

Num plano antagónico tivemos uma Itália completamente irreconhecível. Confesso que apesar da vitória ser totalmente justa, os números são porventura exagerados, atendendo à melhoria dos italianos em termos ofensivos após as entradas de Grosso, Del Piero e Cassano em campo. No entanto, pelas inacreditáveis falhas defensivas que os pupilos de Donadoni tiveram ao longo do jogo, não se pode dizer que a Holanda não merecesse marcar três golos. Neste contexto, tivemos uma Itália algo perdolária na hora de finalizar e muito débil em termos defensivos, algo que é totalmente surreal e contra-natura.

Analisando individualmente os melhores e piores de cada equipa, diria que haveria muito por escolher para MVP do lado holandês e, por outro lado, muito por escolher no lado italiano se tivessemos de escolher o candidato a pior em campo. Nesse sentido, destacaria na Holanda Van der Saar que defendeu tudo o que havia para defender - aquela defesa ao livre de Pirlo é, talvez, a melhor defesa do Europeu até ao momento -; no eixo defensivo, Ooijer e Mathijsen foram enormes na forma como quase sempre conseguiram segurar Luca Toni e Van Bronckhorst mostrou, também ele, toda a sua experiência a defender e também em acções ofensivas (marcou o terceiro golo da forma mais improvável); no meio-campo, uma surpresa: Orlando Engelaar. Confesso que nunca tinha visto jogar este jogador do Twente mas deu para ver que Marco Van Basten não se equivocou quando o "lançou às feras". Diria que se Sneijder foi o melhor em campo e pôde mostrar todo o seu potencial (já lá vamos!), muito se deveu ao trabalho de De Jong e principalmente deste Engelaar que apresentou 1,98 m de força, raça, vontade, determinação e de inteligência na forma como realizou o seu trabalho. Seguramente que não teve tanta influência em termos ofensivos como vimos em Sneijder ou Van der Vaart mas foi fundamental na forma como equilibrou a equipa e revelou a segurança necessária para os fantasistas da equipa. Até agora (e porque não o conhecia), a revelação deste Europeu.
Para falarmos com mais pormenor da excelente exibição da Holanda, teremos obviamente de olhar para duas unidades fundamentais para o desfecho do jogo: Ruud Van Nistelrooy e Sneijder, o MVP da Uefa. Nistelrooy foi aquilo ao qual nos habituou: seguro com a bola em seu poder, inteligente na forma como se movimenta dentro da área e decisivo quando tem de o ser. Dois pormenores que ficam, no entanto, ligados à sua pessoa; no 1º golo do jogo Nistelrooy beneficiou de posicionamento irregular para marcar e no final da primeira parte o avançado do Real ficou a dever um golo ao jogo mas unicamente pelo facto do outro lado estar o melhor guarda-redes do Mundo. Ainda assim, foi mais que convicente a sua prestação e, por que não dizê-lo, provou também estar na luta pelo melhor marcador deste campeonato da Europa.
Quanto a Sneijder, que PARTIDAZO. Um jogador fabuloso com uma capacidade técnica fora do vulgar. É um tanto ou quanto parecido com Pirlo pela forma como joga e faz jogar quer com o pé esquerdo quer com o direito e tem, tal como o italiano, a fantástica capacidade em resolver jogos de meia-distância. É, no entanto, um jogador mais ofensivo que Pirlo e aparece mais vezes em zonas de finalização, como ficou provado no golo que marcou. Foi, sem dúvida, o grande organizador de jogo desta selecção e foi, obviamente, o principal maestro desta grande orquestra.



Virando agulhas para o lado italiano, naturalmente que a máquina falhou no geral. Sem querer tirar o mérito à Holanda, me parece que Roberto Donadoni não fez tudo o que estava ao seu alcance para a obtenção de um resultado diferente. Obviamente que é mais fácil falar ou escrever depois do jogo ter finalizado mas ficou a ideia que a equipa foi mal formada e as substituições algo tardias e conservadoras. Em primeiro lugar, não compreendo o porquê de Del Piero ter ficado sentado no banco. Num meio-campo profundamente táctico e defensivo (Gattuso, Pirlo e Ambrosini), custa a entender como é que alguém como Del Piero ou Cassano, jogadores que pensam o jogo do meio-campo para a frente, ficaram fora do onze. O que é certo é que Cassano e Del Piero, no pouco tempo que estiveram em campo, foram mais perigosos que Di Natale e (principalmente) Mauro Camoranesi. Depois, custa a perceber o que Ambrosini ficou a fazer em campo depois da Holanda ter chegado ao 2-0. Se a ideia era perder por poucos, nem isso foi conseguido. Finalmente, uma palavra para a dupla de centrais (Barzagli e Materazzi) que estiveram num dia horrível. Lentos, bastante faltosos, falta de combinação, enfim, foram dois motivos pelo qual a defesa italiana não funcionou. Certamente que o infeliz Gigi Buffon dar-se-ia muito mais satisfeito se à sua frente tivessem nomes como Alessandro Nesta ou Fábio Cannavaro.

Em suma, grande jogo de futebol entre duas grandes selecções, muito embora uma muito mais feliz que a outra. Importa dizer que a Holanda deu um grande passo para a qualificação ao passo que a Itália, com um resultado tão negativo, não pode sequer pensar em empatar os jogos que lhe restam. Ainda assim, acredito que a Itália vai ainda mostar o porquê de ser a campeã mundial e estou esperançado que dêem a volta a este cenário tão negro.
Quanto à Holanda, com uma equipa jovem, dinâmica e virada para o ataque, a continuar assim, vai ser um caso sério. Parabéns ao seu treinador e aos jogadores que proporcionaram ao Mundo um dos melhores jogos de futebol que temos memória em jogos desta envergadura.
MVP UEFA: Sneijder (Holanda)

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