LIGA DOS CAMPEÕES: Sevilha pela primeira vez entre os melhores

JOGO: AEK 1-4 SEVILHA
(Rivaldo; Luis Fabiano(2), Keita, Kerzhakov)

ENTRADA PELA PUERTA GRANDE



Que grande equipa tem este Sevilha. Depois do tudo o que tem passado nestes últimos dias com a morte de António Puerta, depois de ter jogado na 6ª feira contra o Milão, o que, nesta altura da época, podia ser prejudicial sob ponto de vista físico, o Sevilha foi a Atenas mostrar o que é um verdadeiro plantel de futebol e esmagou por completo o AEK de Moretto, Geraldo, Manduca e Julio Cesar. Se dúvidas houvesse quando a eliminatória estava no intervalo - para mim não as havia -, estas ficaram totalmente desfeitas no jogo da segunda mão. É impressionante como esta equipa do Sevilha mantém uma bitola exibicional tão elevada, independentemente dos jogadores que estejam a jogar ou do campo que esteja a pisar.

No jogo de hoje, para quem ainda podia pensar que o AEK iria entrar forte e determinado em marcar um golo cedo que lhe permitisse encurtar distâncias, rapidamente ficou rendido à evidente superioridade sevilhana. Ao intervalo, os sevilhanos já venciam por claros 0-3.
Na etapa complementar, mesmo com o resultado feito e a eliminatória no "bolso", o Sevilha quis mais e foi para a frente em busca de mais golos. Todos os jogadores estavam com vontade de saudar e dedicar golos ao malogrado Puerta. Impressionante o carrocel espanhol que lhe permitiu chegar ao 0-4 por intermédio de Kerzhakov.
Se alguns jogadores do Sevilha trabalhavam para marcar mais golos, Palop, na baliza, dava também o seu contributo. Aos 63 minutos defendeu um penalty ao ex-benfiquista Manduca.
Aos 81 minutos chegou o golo solitário do AEK. Rivaldo, na transformação de nova penalidade, marcou para os gregos, isto numa fase em que as "pernas" sevilhanas já não respondiam tão bem.
Uma máquina de jogar futebol, uma verdadeira equipa, um grande treinador. Atenção a este Sevilha que vai certamente mostrar serviço quer no campeonato quer na Liga dos Campeões.

COMO JOGOU O SEVILHA:

Palop, Daniel Alves, Fazio, Escudé (Mosquera), Dragutinovic, Jesus Navas, Keita, Poulsen (Maresca), Capel, Luis Fabiano (De Mul) e Kerzhakov.


OLHO CLÍNICO:




Como devem calcular, é muito difícil colocar no grafismo o onze base do Sevilha. Juande Ramos, pela qualidade do plantel que tem à sua disposição, raramente coloca em campo o mesmo onze. Como em todas as equipas, naturalmente que há jogadores mais indiscutíveis que outros. Contudo, no Sevilha, o colectivo é a palavra que domina e, como tal, estou em condições de afirmar que não há titulares absolutos nesta equipa.
Uma vez que tinha de colocar onze jogadores "em campo", entendo que os mesmos que estão colocados em plano de destaque são, na minha opinião, aqueles que formam o onze mais forte deste Sevilha.

A TÁCTICA:

Juande Ramos joga quase sempre num 4-4-2 clássico. Jogue em casa com o Getafe ou fora com o Real Madrid, é muito raro não vermos em campo dois dos quatro avançados que o Sevilha tem à disposição.
No meio-campo, temos um jogador em que apenas se encarrega das tarefas defensivas (normalmente é Poulsen o escolhido); temos um outro que defende e ataca, portanto, o chamado box-to-box (Renato é o mais indicado para esta tarefa); nas alas, temos sempre dois jogadores rápidos, bons sob ponto de vista técnico e que cruzam muitas vezes e quase sempre bem. Tendo Kanouté e Fabiano na frente, dois jogadores altos e fortes no jogo aéreo, é importante ter alas que vão à linha de fundo muitas vezes e que tirem bons cruzamentos. Duda, Jesus Navas, Adriano e o proprio De Mul são especialistas em servir de "bandeja" os seus companheiros de ataque.

DANI ALVES + POULSEN

Apesar de na teoria vermos o Sevilha a jogar num tradicional 4-4-2 com extremos à antiga, na prática, existem algumas nuances que alteram este sistema de jogo. Daniel Alves e o dinamarquês Poulsen são, no meu entender, os grandes responsáveis para haver algumas variantes neste sistema. Vamos por partes.
Em primeiro lugar, falar de Dani Alves é falar de um grande jogador, porventura o melhor lateral direito da actualidade. Diria até que é o atleta mais importante deste Sevilha. O alemão Hinkel e o holandês Boulahrouz podem fazer bem a posição de defesa direita mas não têm a mesma qualidade que Alves. Normalmente, nesta posição específica, é importante que um lateral defenda bem primeiramente e só depois se preocupe em atacar o seu flanco. Pois bem, com Daniel Alves a coisa muda totalmente de figura. Este jovem jogador tem um pulmão deveras impressionante que lhe permite estar em todo o lado. Defende, ataca, aparece na área, no meio-campo, é rápido, cruza muito bem, marca livres... enfim... é um verdadeiro faz-tudo. Não foi por acaso que Real Madrid e Chelsea estavam dispostos a "perder a cabeça" com este lateral.

Apesar de cumprir a nível defensivo, é no plano ofensivo que mais se destaca Daniel Alves. Ora, é aqui que entra o dinamarquês Poulsen. Quando o brasileiro não está na sua posição, Juande Ramos tem duas soluções que fazem com que o lado direito da sua defesa nunca esteja em risco em caso de contra-ataque do adversário. Uma hipótese passa pela utilização de 3 centrais. Dragutinovic, lateral esquerdo que também joga a central, normalmente fecha no meio fazendo com que a equipa jogue com 3 defesas. Depois Poulsen terá a importante missão de recuar e auxiliar os centrais, algo que faz na perfeição.
Juande Ramos pode também manter o mesmo sistema e colocar Poulsen como falso lateral direito. Daniel Alves, depois de terminar a sua jogada ofensiva, não necessita de voltar rapidamente ao seu lugar e, nesse sentido, vai para o miolo do terreno. É por isso que muitas vezes vemos o brasileiro nos locais mais improváveis.

O Português Duda

Duda tem sido um jogador em claro crescimento. O sistema de rotatividade utilizado por juande Ramos permite que o português ganhe minutos. Este ano perdeu a concorrência de António Puerta, jogador que este ano iria ser seguramente mais vezes utilizado na posição de lateral esquerdo, mas ganhou a concorrência de Capel, um jogador de grande qualidade que já mereceu destaque no blog aquando do Campeonato do Mundo de sub-20.
Na minha maneira de ver, Adriano será mais vezes o dono do lugar mas Duda, pela forma como tem jogado nesta pré-temorada, vai certamente ser uma peça importante em determinados jogos, nomeadamente através dos perigosos cruzamentos que tira e também, claro está, do perigo que traz através das bolas paradas.

Por tudo isto e muito mais, na minha opinião, este Sevilha tem condições para lutar pelo título espanhol, isto apesar de considerar que Barcelona e Real Madrid estão, nesta época, ainda mais fortes. Uma coisa é certa, Valência e Atlético de Madrid não vão certamente figurar nos três primeiros lugares da liga.

No que diz respeito à liga dos campeões, me parece que seria arriscado colocar demasiado alto a fasquia a uma equipa que nunca jogou numa competição deste calibre. Ainda assim, não tenho dúvidas que este Sevilha vai passar a primeira fase de grupos e vai criar problemas aos grandes favoritos a ganhar esta competição. Estou curioso em ver aquilo que o Sevilha vai fazer...