terça-feira, julho 11, 2006

Scolari para atacar Euro2008?





Findado que está o Campeonato do Mundo, competição que, apesar de ter sido bem melhor que 2002, deixou, mais uma vez, muito a desejar pelo facto da mesma se realizar depois de uma época profundamente desgastante para grande parte dos jogadores, é tempo de fazer o rescaldo daquela que foi a prestação portuguesa na prova, é altura de falar sobre o trabalho de Scolari e sobre a pertença renovação do brasileiro para atacar o Europeu de 2008.

Antes de falar propriamente de Scolari, gostaria de dizer que a nossa selecção está de parabéns por tudo aquilo que fez neste Mundial. Chegar a um quarto lugar e nas condições que foi, garanto-vos que é um feito absolutamente fantástico. Só o facto de termos ficado à frente de selecções como a Argentina, o Brasil, a Espanha, a Inglaterra ou a Holanda já é algo que valoriza ainda mais a nossa prestação neste bonito torneio. É obvio que quando digo que Portugal está de parabéns, refiro-me a todas as pessoas que na Alemanha deram o seu melhor em prol de uma nação. Apesar de não gostar de Scolari, reconheço que o brasileiro não tem só sorte. A sorte é importante mas não é só com sorte que se chega a um 4º lugar de um campeonato do Mundo. Tenho de dar o mérito a Scolari que, contra tudo e contra todos, fez um grupo, deu condições a todos os níveis a esse mesmo grupo, e lutou, trabalhou, preparou as suas tropas para obter o melhor resultado possível no campeonato do Mundo. Bem ou mal, Scolari deu o seu melhor, disso, não tenho a menor dúvida.
Já que estou a falar bem (para já!!) de Scolari, um dos aspectos que acho que o brasileiro é muito bom é na forma como lida com os jogadores. No plano psicológico, tal como Mourinho, Scolari é muito competente. Tirando Nuno Gomes, não tenho dúvidas que todos os jogadores que estavam no Mundial aprenderam a admirar e respeitar o seleccionador. Esse é, sem dúvida, um dos grandes méritos do Scolari.

Agora, vamos passar à parte negativa de Scolari. A meu ver, há muitos aspectos negativos no percurso do Felipão que me fazem não nutrir qualquer simpatia por este treinador.
Ora bem, já vimos que Scolari no campo psicológico é fantástico. Sim, é verdade. No entanto, para se ser um bom treinador, não basta dar moral às suas tropas. É preciso prepará-las para lutar contra o inimigo, seja ele bom, mau, fraco ou forte. E nisso, Scolari falha bastante. Senão vejamos:

Já repararam que sempre que Portugal tem de tomar a iniciativa de jogo, a nossa selecção tem sempre muitas dificuldades? Contra equipas como Liechenstein, Luxemburgo, Angola, Irão, Egipto, Cabo Verde, entre outras, porque é que nunca conseguimos mostrar a nossa superioridade e praticar um futebol atractivo e um futebol de ataque continuado? com a Grécia no campeonato da Europa e contra a França no campeonato do Mundo, quando estivemos em desvantagem e tinhamos obrigatoriamente de tomar a iniciativa do jogo, porque é que falhámos? porque é que contra a Inglaterra, mesmo com uma unidade a mais, não conseguimos criar uma única oportunidade de golo, isto com todos os ingleses mais interessados em defender do que propriamente em marcar?

Sabem porquê? porque efectivamente não estamos preparados para essa situação. Scolari tem única e exclusivamente um plano A, plano esse que se baseia num sistema de 4-3-3, sendo que, neste campeonato do Mundo, foi mais um 4-3-2. Sejam jogos de treino, sejam amigáveis, sejam jogos de grau de dificuldade elevado ou reduzido, sejam jogos para importantes competições internacionais, o sistema é sempre o mesmo, os jogadores quase sempre os mesmos.

Não pensem que ao referir que Scolari só tem um plano A que seja uma crítica puramente negativa. Nada disso. Há treinadores que não têm sequer um plano. Agora, o problema foi que Scolari trabalhou tão bem esse plano a pensar que seria um plano infalível. Pois bem, quando esse mesmo falhou, todo o trabalho quer no Euro, quer no Mundial, vieram por "água a baixo".
Pois bem, o plano de Scolari resultou em grande parte dos jogos do Mundial precisamente por este estar protegido contra equipas ofensivas. Ou seja, sempre que Portugal encontra uma equipa que ataque tanto ou mais que a nossa, Scolari tem muito mais facilidade em triunfar. O plano do Felipão é composto por muito trabalho dentro de campo, muita luta, muito espírito de sacríficio e muita complicidade entre todos os atletas. Nestes jogos, é díficil apontar o que quer que seja a algum atleta português. Vimos no Euro2004 Portugal a lutar até às últimas contra a Espanha, viu-se o mesmo contra a Inglaterra ou a Holanda, viu-se neste Mundial o empenho de todos os jogadores frente à Holanda ou Inglaterra e nisto, mesmo com algumas teimosias à mistura nas escolhas dos jogadores, a estratégia de Scolari é (quase) perfeita. Depois, caso as armas utilizadas por Scolari não tenham desde logo causado mossa no adversário, o brasileiro conta com dois misseis que fazem inveja à China ou aos Estados Unidos: nada mais nada menos que o São Ricardo e a Nossa Senhora do Caravaggio. Quase sempre mata o opositor!
O grande problema reside quando o feitiço se vira contra o feiticeiro. Ou seja, quando Portugal se encontra em desvantagem ou quando Portugal se tem de assumir como comandante do jogo. Aí, Scolari é como que um peixe fora de água. Não tem capacidade para ler o jogo, não sabe mexer na equipa de modo a mudar o rumo dos acontecimentos, não tem a capacidade para analisar quando é que deve ser o momento de mudar o sistema de modo a ter outra produtividade atacante.
E quem não percebe muito tacticamente, para mim não pode ser um grande treinador. Não há dúvida que Scolari é um excelente psicólogo, um excelente amigo, um verdadeiro "sargentão" mas, a meu ver, por muito curriculum que tenha, não reúne as capacidades necessárias para continuar à frente da nossa selecção. Trapattoni também foi campeão pelo meu Benfica e tem um curriculum de fazer inveja a muitos treinadores e não era por isso que eu gostava que ele continuasse à frente do meu clube. Para mim os títulos não são tudo!
Scolari foi feliz por Portugal, estou-lhe agradecido por aquilo que fez pelo nosso país mas, para mim, já chega! Um Humberto Coelho, por exemplo, seria uma opção francamente mais interessante. E este, que fez um fantástico campeonato da Europa de 2000, não teve a oportunidade de dar continuidade ao seu trabalho.

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