Assino por baixo

"Imagens da Discórdia"

Fonte: Record
Escrito por: Luis Avelãs

"Regressou a moda dos sumaríssimos ao futebol português. Depois de algum tempo sem se ouvir falar nesta expressão tão pitoresca eis que ela volta cheia de pujança e destinada a semear mais um pouco de confusão num desporto cada vez mais descaracterizado, cinzento e problemático.

Primeira declaração: sou favorável a que o Conselho de Disciplina da Liga puna quem, por qualquer razão, agrediu um companheiro de profissão e, ao mesmo tempo, logrou iludir o trio de arbitragem. Assim, considero justo e acertado que Derlei seja alvo de processo e fique algumas partidas "de molho", de modo a perceber o erro cometido no jogo de estreia pelo Benfica. As imagens televisivas são, neste particular (e noutros), precioso auxiliar da verdade. Só é pena que as cabeças pensantes do futebol não as queiram utilizar para, à semelhança do que se passa na NBA, râguebi ou ténis, tirar dúvidas em relação a questões técnicas. Pelos vistos, por enquanto, só são úteis disciplinarmente.

Mas, façamos um breve esforço de memória. Foi Derlei quem rubricou o primeiro lance da temporada em que um jogador teve comportamento susceptível de expulsão sem que o árbitro agisse em conformidade? Não! E porque razão, nessa altura, não apareceram os sumaríssimos? É por não encontrar resposta a esta pergunta que, num artigo recente, levantei a possibilidade de só as cotoveladas estarem na mira dos homens da Disciplina. Não preciso recuar muito no tempo para me lembrar de lances, sem admoestação no campo, em que determinados atletas pontapearam, pisaram ou deram chapadas em opositores. Umas mais evidentes, outras "ao de leve", embora a velha questão da intensidade seja completamente absurda. Não existem pequenas ou grandes faltas; penáltis mais claros ou menos. As infracções existem ou não. O resto é conversa. E não tenham ilusões clubísticas: isto aconteceu com futebolistas dos grandes tanto no papel de vítimas como de infractores, por muito que o adepto português só tenha, quase sempre, memória apenas para os jogos em que a sua cor foi prejudicada.

Segunda declaração: FC Porto, Sporting e Benfica são "fiscalizados" de uma forma diferente das outras equipas da Liga. Basta ter em conta que todos os seus jogos têm transmissão directa na televisão para se entender que as infracções cometidas ou sofridas pelos seus atletas têm outro impacto. Será isto justo e/ou legal? Não me parece. Num qualquer Aves-Naval podem ocorrer várias situações graves que, caso o árbitro não as veja, jamais serão comentadas. Dessa forma... os eventuais prevaricadores nunca serão alvo de sumaríssimos. Em Portugal, ao invés do que sucede em Espanha ou Itália (entre outros), as partidas de futebol têm tratamento díspares. E isso, assumo, é revoltante. É como o Roger Federer (ou quem o defronta), num qualquer Grand Slam tenístico, poder pedir ao juiz para confirmar uma bola dentro ou fora só porque joga num dos campos principais, enquanto um atleta desconhecido, recambiado para o "court" 15 ou 16, não ter essa hipótese. Será isso justo? Para mim, não! Jamais concordarei com regulamentos que não coloquem todas as equipas ou atletas em igualdade de circunstância. E creio que já mostrei aqui dois exemplos claros em que essa obrigatoriedade não existe.

Só mais uma questão: se parece pacífico que Derlei deveria ter sido expulso no jogo com o Boavista, não será lógico que os axadrezados se sintam prejudicados? É verdade que ainda hoje não deve fazer ideia porque sairam da Luz sem sofrer golos, mas isso é outro assunto. Objectivamente, os homens do Bessa deveriam ter jogado uns quantos minutos em superioridade numérica e não o fizeram porque o árbitro não esteve atento. Sendo assim, e porque isto não nos iria levar a lado nenhum, creio que no caso concreto do futebol... as imagens televisivas deviam ser utilizadas mais em questões técnicas (a bola entrou ou não, determinado golo foi em posição regular ou irregular) e menos em disciplinares. Se o árbitro não viu... paciência. Estranho é ver jogadores suspensos 1 jogo por terem visto vermelho directo e saber que outros vão "descansar" 2 sem terem visto um amarelo sequer. Mas, hoje, não vou entrar por aí. É que as expulsões no campo são julgadas atendendo ao relatório do árbitro e as outras não..."