quinta-feira, novembro 29, 2007

Champions: Benfica de gala mas sem milhões


Benfica 1-1 AC Milan
(Maxi Pereira; Pirlo)

A VELHA HISTÓRIA DO COSTUME!



Um privilégio ter estado ontem no Estádio da Luz. Por vários motivos: pelo espectáculo em si, pela qualidade exibicional do Benfica, pelo comportamento de todos os jogadores, pelo fair play, pela boa arbitragem, pelos deliciosos pormenores de Kaká e, mais que tudo, pelo "monumento" de Maxi Pereira, o melhor jogador do Benfica no jogo de ontem. No fundo, disfrutei de um grande espectáculo de futebol.

Começando pelo fim, acho que o resultado se ajusta perfeitamente àquilo que foi o jogo. Se olharmos para as oportunidades claras de golo, provavelmente o Milan teve mais e melhores chances para ganhar. Se tivermos em conta a posse de bola e o dominio territorial do jogo, aí a balança inclina-se claramente para a turma benfiquista. É certo que o conjunto italiano mostrou-se sempre relativamente satisfeito com o empate e, nesse contexto, preferiu sempre não correr grandes riscos mas, isso não significa que o Benfica não tenha tido mérito na forma como, muitas vezes, colocou em sentido o campeão da Europa de clubes. Em suma, contas feitas, o resultado soube a pouco para os "encarnados" mas aceita-se perfeitamente.
Analisando este jogo com frieza, apetece-me dizer que este filme foi igual a tantos outros em que estão inseridas equipas italianas. A certa altura do jogo, dá a sensação que o Benfica está nitidamente por cima e que vai, mais minuto menos minuto, balançar as redes do seu adversário. Contudo, e mais uma vez tivemos essa prova, muitas vezes esse dominio é consentido e controlado pelo adversário. A isto se chama cinismo italiano. A estratégia é simples e notável: dar a iniciativa de jogo ao adversário, fazer crer ao seu opositor que está por cima (e que, arriscando mais um pouco, pode a qualquer momento marcar um golo) para, a qualquer momento e (aparentemente) contra a corrente de jogo, lançar um feroz e temível contra-ataque para "matar" a partida. Ora, para esta estratégia, nada melhor que ter um SENHOR chamado KAKÁ. Se na 3ª Feira o Sporting ficou rendido à qualidade de Cristiano Ronaldo, ontem o fantástico público da Luz tremia sempre que este brasileiro tocava na bola. Felizmente, não tocou muitas vezes mas, quando tocou, mostrou toda a sua classe.
É evidente que o Benfica fez uma grande partida. Tirando os primeiros 15 minutos onde a equipa entrou a medo e mostrou um exacerbado respeito pelo conjunto milanês, diria que os pupilos de Camacho tiveram muitas ganas e mostraram-se totalmente destemidos perante um dos maiores colossos europeus. O problema é que uma exibição q.b do Milan chegou para empatar fora de casa e uma grande joga do Benfica não foi suficiente para averbar os três pontos. É caso para dizer que é uma história que todos nós já conhecemos. Foi assim o Sporting com a Roma, foi assim o Benfica com o Inter de Milão em anos anteriores, enfim, o que é preciso fazer para ganhar a uma grande equipa italiana, especialmente quando esta fica satisfeita com a igualdade. Normalmente, quando uma equipa portuguesa entra em campo sabendo de antemão que o empate chega, provavelmente perde. Por sua vez, quando uma equipa italiana necessita de um simples empate, pode sofrer muito, pode dar a sensação que está em apuros mas, no final, o placar serve perfeitamente os ideais italianos. Sorte? Felicidade? Estilo de jogo defensivo? chamem-lhe o que quiserem. O que interessa é que nos grandes momentos dizem PRESENTE.

Rapidamente, em breves pinceladas daquilo que foi o jogo, no primeiro tempo tivemos duas partes distintas. Numa primeira instância, o Milan entrou melhor e, depois de ter ameaçado por duas ou três vezes, marcou o primeiro da partida através de um remate do inevitável Andrea Pirlo. Não foi o maestro que costuma ser mas, em pequenos pormenores, mostrou toda a sua classe. Além do mais, picou o ponto como tão bem sabe fazer.
A partir do golo, tivemos uma boa reacção encarnada. Surpreendentemente, o lado direito do ataque foi muito mais interveniente do que o esquerdo. Léo raramente se viu em termos ofensivos e Cristian Rodriguez, apesar de esforçado, não atingiu os níveis exibicionais que vinha mostrando nos últimos tempos. Ora, não houve lado esquerdo mas houve efectivamente muito lado direito. Luis Filipe fez, porventura, o melhor jogo com a camisola do Benfica e foi uma excelente muleta para o "tractor" Maxi Pereira. O uruguaio fez o que quis de Serginho na primeira parte, esteve em quase todos os lances perigosos do Benfica no primeiro tempo e culminou a sua prestação com um GOLO FABULOSO, digno de levantar um Estádio. De pé esquerdo, o seu pior pé, Maxi tentou a sua sorte e colocou a bola mesmo na "gaveta". Estava feita a igualdade, reacordado estava o estádio da Luz.
Até o final da primeira parte, a equipa do Benfica continuou por cima. Petit e Katsouranis faziam a pressão em zonas altas do terreno e Pirlo e companhia sentiam dificuldades em trocar a bola. O problema era quando o Milan conseguia sair da pressão e lançava o contra-golpe. Quem é que aparecia sempre nessa situação? Nem mais nem menos que... KAKÁ. Com muito terreno para galgar e com poucas unidades em zona defensiva (a pressão alta tem destas coisas), o brasileiro desafiava os defesas "encarnados" a fazerem veradeiros sprints. Petit, por duas vezes e Luis Filipe, numa ocasião, renderam-se completamente à mudança de velocidade do "22". A sorte para o Benfica foi que David Luiz, primeiro, e a falta de apoio, depois, não ajudaram o jovem prodígio.
Ao intervalo, belo espectáculo, grande ambiente e um resultado colorido mas empatado.



Na segunda parte, tirando os primeiros 15 minutos onde o equilibrio foi a nota dominante, diria que tudo o resto teve mais vermelho do que preto. O Benfica pegou no jogo e, provavelmente com indicações de Camacho, lançou-se de vez em busca do único resultado que interessava, ou seja, a vitória. É certo que correu riscos, é obvio que Pirlo e Kaká a qualquer momento podiam sentenciar a partida mas, há que dizer, esta ambição e vontade em querer vencer o jogo deixa orgulhoso qualquer adepto benfiquista. Camacho e toda a equipa está de parabéns porque, de facto, todos, sem excepção, remaram para o mesmo lado em busca de um único objectivo. Tal não foi possível porque do outro lado está um conjunto muito experiente e muito "batido" neste tipo de competições.
Valeu Benfica e valeu AC Milan. Fica a sensação que poderiam muito bem ser estas as duas equipas a serem apuradas. Em relação ao Celtic, acho os escoceses com muito pouco futebol para estas andanças. É certo que fazem do factor casa uma arma tremendamente poderosa. Agora, quem os vê em casa e vê fora, vê duas coisas completamente distintas. Já o Benfica, mostrou argumentos na primeira parte de Glasgow e possivelmente vai apresentar armas fortes na Ucrânia. Fica sinceramente a sensação que se podia ter feito mais. Foi pena aquele inicio de época menos bom, com muitas indecisões e com algumas lesões à mistura.
Para o ano há mais Champions (assim se espera!), este ano há ainda a esperança de discutir com Braga e Sporting a Taça Uefa.



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