domingo, outubro 07, 2007

Bwin Liga: Segunda parte de leão vale 3 pontos



Que grande jogo de futebol pudemos nós assistir ontem em Alvalade. Duas equipas totalmente viradas para o ataque, esquemas tácticos profundamente arrojados, substituições com os olhos postos no golo... houve, portanto, dois conjuntos com total interesse pela conquista dos três pontos e é efectivamente disto que o povo gosta. Levou a melhor a equipa da casa mas, independentemente dos números serem expressivos, o Guimarães sai de Lisboa com uma nota muito positiva e com uma imagem completamente digna de quem tentou proporcionar um bom espectáculo de futebol.

Ora, antes de falar do Sporting - e hoje há alguns aspectos que me interessam destacar, inclusivé em termos de selecção nacional -, tenho necessariamente de falar (e bem!) deste entusiasmante Vitória de Guimarães. Primeiramente, uma palavra para o treinador Manuel Cajuda. Sabendo do desgaste físico que poderia afectar a equipa de Paulo Bento, fruto da deslocação a Kiev durante a semana, o técnico vimaranense poderia muito bem ter apostado numa equipa com cariz defensivo, isto com o intuito de obrigar o Sporting a correr, a buscar espaços, a ter uma maior iniciativa de jogo e, inerentemente a isso, ter uma quebra significativa no segundo tempo que pudesse vir a ser explorada pela equipa minhota. Pois, contra todas as expectativas, Cajuda apresentou uma equipa com 4 unidades de ataque: Alan, Carlitos, Ghilas e Desmarets. Resultado? durante os primeiros 45 minutos, o Guimarães jogou literalmente taco-a-taco com o Sporting. Aquilo que vimos na primeira parte, dificilmente voltaremos a ver esta época, inclusivé quando Porto e Benfica se deslocarem ao reino do leão.
Ao intervalo o marcador assinalava um nulo mas, verdade seja dita, um empate com golos ilustrava melhor aquilo que se havia passado. Recordo-me de uma grande defesa de Stojkovic, uma perdida de Ghilas e uma enorme perdida de cabeça de Liedson.

Se na primeira parte tivemos um grande Guimarães e um Sporting mais surpreendido do que propriamente mal na partida, num segundo tempo continuámos a ter um Vitória com carisma, corajem e determinação mas, em contra-partida, pudemos efectivamente ver um Grande Sporting. E o mérito disso, se me permitem, vai inteirinho para Paulo Bento. O técnico leonino, mais uma vez, mostrou ser grande, mostrou ter uma enorme corajem. O jogo estava tremendamente complicado para o Sporting já que o Guimarães dava muito trabalho à defesa leonina e ameaçava marcar a qualquer momento. Ora, para muitos, a formula ideal para quebrar o impeto vimaranense seria povoar o meio-campo e ter mais bola. Para Paulo Bento, não. Segundo este, a maneira mais fácil de anular o ataque vitoriano foi precisamente com uma maior propensão ofensiva da sua equipa. As coisas poderiam ter saído bem caras ao técnico leonino - se tivesse perdido o jogo, estaria hoje mesmo a ser crucificado na praça pública por ter tirado Ronny -, mas este, indiferente a tudo isso, correu o risco, buscou com todo o arsenal disponível a tão ambicionada vitória (tal como havia tentado fazer frente ao Setúbal) e, tal audácia foi premiada com três golos e uma bela exibição. Registe-se: não foi o Guimarães que caíu no segundo tempo, foi precisamente o Sporting que ligou o turbo e arrancou para uma noite de grande inspiração.

Quando os jogos são tão emotivos e tão equilibrados, normalmente costuma dizer-se que heróis precisam-se. Desta vez, Paulo Bento não viu o "leve" assumir o papel principal e também não viu o capitão Moutinho assumir o controle do barco. O "herói" veio do banco e de leste. Nilson foi surpreendido pela frieza russa de Izmailov no primeiro e segundo golos do Sporting. Isto tudo em apenas 8 minutos. Bento havia lançado ao intervalo Izmailov e Purovic para os lugares de Ronny - Miguel Veloso assumiu a posição de lateral esquerdo - e Yannick Djaló e o que é certo é que a equipa teve outra dinâmica ofensiva. Izmailov, não só mas também pelos golos, foi, sem dúvida, a grande figura do jogo.

Quando se fala em anti-jogo, quando normalmente assistimos a jogos fracos na Bwin Liga muito por causa da forma ultra defensiva com que as equipas forasteiras actuam, este Guimarães mostrou como se deve interpretar um jogo de futebol. É certo que perdeu, é claro e inequívoco que saíu de Alvalade com uma pesada derrota; agora, uma coisa também é certa. Da forma como jogou, da maneira ofensiva com que se apresentou em campo, estou convicto que noutros jogos e com as mesmas oportunidades, o resultado vai ser seguramente diferente. Hoje, caros leitores, o Guimarães só saíu de Lisboa derrotado porque tivemos um Sporting com garra e com veia de leão. Tivesse Paulo Bento mostrado medo e hoje o Vitória tinha "amassado" o leão.

Ainda antes de terminar, gostaria de falar de alguns pormenores que me saltaram à vista na equipa leonina. Em primeiro lugar, falar de Miguel Veloso. Já o tinha visto nos sub-21 na posição de defesa esquerdo e hoje tive novamente essa oportunidade no segundo tempo. Mais uma vez, fiquei com a sensação que o jovem prodígio do Sporting poderia muito bem ser o dono da lateral esquerda da selecção nacional. Estamos de acordo que é no meio-campo que Veloso se sente melhor. Agora, na falta de melhor soluções, parece-me que não era descabido tentar adaptar o "24" nessa posição.
Gostaria também de falar de João Moutinho e Romagnoli. No que diz respeito ao capitão dos "leões", tenho a dizer que custa-me ver Moutinho como interior direito. É certo que cumpre bem essa função mas, sinceramente, acho que não está a mostrar todo o potencial que já demonstrou como "6" ou como "10". Percebo Paulo Bento que "não pode" neste momento abdicar de Miguel Veloso ou de Pipi mas, na minha opinião, é uma pena vermos Moutinho em terrenos que não são aqueles que mais brilha.
Uma palavra final para Romagnoli. Está feito um grande jogador. E nem falo do jogo de hoje onde até esteve algo abaixo daquilo que tem revelado ultimamente. Qualidade técnica, capacidade em causar desequilibrios à esquerda ou à direita, enorme qualidade no último passe, enfim, Romagnoli é, hoje por hoje, titular indiscutível deste Sporting. Mais uma vez, o mérito vai inteirinho para Paulo Bento. Recordo-me na época passada que Romagnoli chegou a fazer vários jogos e a ser substituido sistematicamente ao intervalo. A generalidade dos sportinguistas detestavam ver o argentino no onze do Sporting e não percebiam o porquê da insistência de Paulo Bento no ex-Vera Cruz. O técnico português apostou nele, acreditou no seu valor, porventura terá tido influência na não saída de Pipi no mercado de Inverno para o futebol espanhol e, actualmente, toda essa confiança depositada está a ter finalmente os tão desejados frutos.
É um enorme prazer ter Pipi Romagnoli no futebol português e um treinador português que, afinal, percebe e muito da coisa.

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