sexta-feira, outubro 12, 2007

FUTEBOL DE EXTREMOS

Olhando para o futebol actual, cada vez mais temos visto equipas a jogarem em sistemas sem alas, portanto, no bem conhecido losango. Em Portugal, creio que começámos a assistir com mais relevo a este esquema táctico no Porto de Mourinho (Costinha, Maniche, Alenitchev, Deco), sendo que, actualmente, muitas são as equipas e até selecções (Brasil e Itália) que abdicam completamente dos chamados extremos.
Para ser muito sincero, o losango não é, de todo, o sistema que mais me agrada. Confesso que aprecio ver muito mais uma equipa estruturada num 4-5-1 que se transforma em 4-3-3 quando ataca. Um campo de futebol é bastante largo e, quanto mais aproveitarmos isso, melhor é para a equipa e para o proprio espectáculo (o jogo não fica tão afunilado).
Para melhor perceberem as diferenças que acho de um sistema para o outro, diria que a diferença de jogar com alas ou de jogar com um "molhinho" de quatro no meio-campo é a mesma coisa que correr normalmente ou correr com as mãos nos bolsos. Numa corrida de atletismo, seguramente que, de uma ou de outra forma, chegaremos ao destino mas, correr com as mãos nos bolsos acarreta um desgaste físico muito maior e, esteticamente, parece muito menos elegante.
Como amante da modalidade, adoro ver um futebol de ataque, virado para o espectáculo. Obviamente que a busca do resultado terá de ser sempre o principal objectivo mas, o segredo está em saber conciliar os dois.
Ver a época passada o Chelsea de Mourinho e o Manchester United de Ferguson era como ver a noite e o dia. Até podiam os resultados não terem sido os que acabaram por ser. Agora, uma equipa em 4-4-2 losango (Chelsea) criava, por jogo, 3 ou 4 claras ocasiões de golo e a outra, em 4-3-3 ou 4-4-2 com alas bem abertos (Man Utd), criava 10 ou 15. O espectáculo era outro e quem ganhava era o adepto.
Resultados à parte, a verdade é que não me consigo lembrar de uma equipa que dê espectáculo a jogar em 4-4-2 losango, tendo um pivot defensivo, dois interiores (sem características de ala) e um número 10. Vendo alguns exemplos, se repararem bem, recordo-me do Sporting de Peseiro que, segundo diziam, jogava muito à bola... Pois aí, meus caros, se bem se lembram, havia nesse sistema um tal de Douala, um extremo puro; no Bayern Munique deste ano, temos Ribery, um falso "10" que cria desequilibrios precisamente na ala e Schweinsteiger, um jogador que faz os seus movimentos a partir da ala; no Benfica de Fernando Santos, tinhamos o exemplo flagrande de Simão que fazia as suas jogadas de dentro para fora, ou seja, sempre através de diagonais para as alas; ao invés, vejam como flui o jogo de Barcelona, Manchester United, Arsenal, Sevilha , Porto quando realmente os seus jogadores estão em forma...
Pelo exposto, diria que um sistema losango que possua um jogador capaz de cair nos flancos e que, através da sua velocidade e técnica, desequilibre, até pode, bem trabalhado, vir a dar os seus frutos. Agora, jogar com dois interiores criativos e dois pivots defensivos não terá certamente grande futuro, ainda que nessa equipa estejam dois criativos como Ronaldinho e Kaká. E, se repararem com atenção, é precisamente contra equipas mais defensivas e que apostam no contra-ataque que esse sistema tende a não resultar. Por muita qualidade técnica que haja no meio-campo, se os avançados estiverem a ser bem marcados, obviamente que é mais difícil marcarem golos a serem servidos pelo meio e de costas para a baliza do que pelas alas.
Para quem como eu jogou vários anos como médio ofensivo e adorava fazer aqueles passes em diagonais para a entrada do extremo, não sei o que seria se não o pudesse fazer. Mais, para quem gostava de ter espaços no meio, ter a companhia de mais dois companheiros perto de mim, era como se o meu futebol perdesse alegria.
Olhando para Rui Costas ou Decos, especialistas naqueles passes a rasgar, cortando-lhes os "braços" da equipa, é como se lhes cortarem a alma.

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